Luaty Beirão responsabiliza Eduardo dos Santos sobre consequências da greve de fome
A posição consta de uma declaração escrita já no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda, pelo próprio ativista. Nela, Luaty Beirão justifica os motivos da greve de fome e acusa o presidente da República angolano de "imiscuir-se" na Justiça.
Corpo do artigo
O 'rapper' e ativista angolano Luaty Beirão, detido desde junho e em greve de fome há 28 dias, responsabiliza o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, das consequências deste protesto, acusando-o de "imiscuir-se" na Justiça.
A posição consta de uma declaração escrita já no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda, pelo próprio punho do ativista, com data de 14 de outubro e assinatura reconhecida pelos Serviços Prisionais, à qual a Lusa teve acesso.
Luaty Beirão apresenta-se nesta declaração como "ativista cívico, na condição de detido". O ativista justifica a greve de fome, que encetou com a "vontade própria", por entender que os seus "direitos constitucionais" estão "a ser desrespeitados", exigindo - como prevê a lei angolana para o crime em causa - aguardar julgamento em liberdade.
"Declaro que estou plenamente consciente dos meus atos e das consequências daí resultantes e atribuo a responsabilidade desta drástica decisão ao Presidente da República, engenheiro José Eduardo dos Santos, pela sua teimosia em imiscuir-se em assuntos que numa democracia seriam da exclusiva responsabilidade do poder judicial", afirma.
Luaty Beirão é um dos 15 jovens em prisão preventiva desde junho e formalmente acusado desde 16 de setembro pelo Ministério Público de angolano de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano. Além dos 15 detidos, mais duas jovens estão em liberdade provisória.
O ativista, que assina com os heterónimos musicais "Brigadeiro Mata Frakuzx" ou, mais recentemente, "Ikonoklasta", foi transferido na quinta-feira do hospital-prisão de São Paulo, também na capital, onde estava desde 09 de outubro, para uma clínica privada de Luanda.
A família confirmou, no sábado, que não houve qualquer evolução relevante no seu estado de saúde nas últimas horas, permanecendo "estável", apesar da "gravidade".
Na clínica, Luaty Beirão é vigiado por elementos dos Serviços Prisionais no interior e exterior do quarto. Antes, desde 20 de junho, permanecia detido num dos estabelecimentos prisionais de Luanda, tal como os restantes 14 elementos visados na operação de junho das autoridades angolanas.