Josep Borrell admite que Xi Jinping pode "não acreditar que Putin tenha perdido a razão".
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A menos de uma semana da visita do Presidente do Brasil a Portugal, o chefe da Diplomacia Europeia, Josep Borrell afirmou esta manhã, em Estrasburgo, que Lula da Silva partilha com China a mesma "ambiguidade estratégica" na relação com Vladimir Putin.
Josep Borrell participava no debate em dedicado à relação da União Europeia com a China. Na ocasião apontava um exemplo de um dos temas sobre os quais a União Europeia deve concertar posições e falar como "um coro de vozes afinadas".
"De que forma nos dirigiremos à China sobre a agressão da Rússia na Ucrânia? Quando o Presidente Macron vai a Pequim e diz ao Presidente Xi que espera que ele o ajude a chamar Putin à razão, pode acontecer que o Presidente Xi não acredite que Putin tenha perdido a razão, pelo contrário, que tenha até razões que partilha com ele - e com muitos dos seus visitantes! -, como o Presidente Lula, que esteve em Pequim anteontem e cultivou a mesma ambiguidade estratégica que a China", sublinhou Borrell.
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O chefe da diplomacia europeia considerou ainda que ao longo dos próximos anos, a União Europeia deve procurar um "equilíbrio entre dependência e autonomia" para diminuir o "risco geopolítico" para a União Europeia, numa altura em que a China se afirma cada vez mais.
"A China já não é o fornecedor de bens baratos, produzidos por mão-de-obra barata, pelo contrário, está na vanguarda do desenvolvimento tecnológico e é um concorrente para bens mais sofisticados", afirmou, ironizando com uma referência ao recurso à China como centro de produção a baixo custo para a as empresas europeias.
O resultado é "um défice comercial de 400 mil milhões [de euros]", ao passo que a China tem "um superávit de 470 [mil milhões de euros]", sublinhou Borrell.
"No final, o barato é caro", afirmou. "A minha avó costumava dizer-me, não comprem as coisas baratas que acabam por ser caras", ironizou Borrell. "Aprendemos isto com a energia russa e estamos agora a aprendê-lo na concorrência económica com a China", exemplificou, considerando que não acontece "não apenas porque não somos competitivos, mas porque na China quem manda não é o mercado, é o Estado e isso muda radicalmente as regras do jogo"
Borrell considera que a Europa não deve cortar o diálogo com Pequim, mas para tal deverá haver concertação. E, mesmo que não o fazendo a uma só voz, não deve haver dissonâncias entre os 27.
"Temos de alinhar as nossas posições e expressá-las - não com uma só voz, porque temos uma multiplicidade de vozes, mas - como um coro bem afinado, com muitas vozes", defende Borrell, esperando que cada um dos intervenientes europeus possa assim "tentar dizer a mesma coisa, ou pelo menos no mesmo comprimento de onda".
"A pluralidade não deve ser um problema, desde que haja uma posição consensual", defendeu o chefe da diplomacia.