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A Nobel da Paz sublinha que a "causa da Venezuela transcende as suas fronteiras" e salienta que "um povo que escolhe a liberdade contribui não só para si mesmo, mas para a humanidade"
A vencedora do Prémio Nobel da Paz 2025, María Corina Machado, acusou esta quarta-feira o Governo venezuelano de "terrorismo de Estado" e antecipou para breve o regresso dos venezuelanos que abandonaram o país.
Num discurso lido pela sua filha, Ana Corina Sosa, que recebeu o prémio no seu nome uma vez que não pôde comparecer a tempo da cerimónia por motivos ainda por especificar, a líder da oposição venezuelana afirmou ainda que "para ter democracia" é preciso estar preparado para "lutar pela liberdade".
"Meus queridos venezuelanos, o mundo ficou maravilhado com o que alcançámos e em breve testemunhará uma das cenas mais comoventes do nosso tempo: os nossos entes queridos a regressar a casa - e eu estarei novamente na ponte Simón Bolívar, onde outrora chorei entre os milhares que partiam, para lhes dar as boas-vindas de volta à vida luminosa que nos espera", afirmou María Corina Machado.
Referindo-se ao regime do Presidente Nicolás Maduro, a laureada condenou os "crimes contra a humanidade documentados pelas Nações Unidas" e o "terrorismo de Estado utilizado para enterrar a vontade do povo".
Apesar das tentativas do regime de silenciar os opositores, a líder opositora garantiu que tem estado a preparar há mais de um ano uma transição pacífica para a Venezuela.
"Durante estes últimos dezasseis meses na clandestinidade construímos novas redes de pressão cívica e desobediência disciplinada, preparando a transição ordeira da Venezuela para a democracia", adiantou no discurso lido por Ana Corina Sosa.
María Corina Machado frisou ainda que a "causa da Venezuela transcende as suas fronteiras" e salientou que "um povo que escolhe a liberdade contribui não só para si mesmo, mas para a humanidade".
No início do discurso, a vencedora do Prémio Nobel da Paz 2025 sublinhou o papel da Venezuela como "refúgio" para vários migrantes, incluindo portugueses.
"Abrimos os nossos braços a migrantes e exilados de todos os cantos do mundo: espanhóis fugindo da guerra civil, italianos e portugueses escapando da pobreza e da ditadura, judeus após o Holocausto, chilenos, argentinos e uruguaios escapando de regimes militares, cubanos fugindo do comunismo e famílias da Colômbia, Líbano e Síria em busca de paz. Demos-lhes casas, escolas, segurança. E eles tornaram-se venezuelanos", disse, adiantando que no país tinha sido forjada uma democracia que há data era "a mais estável da América Latina".
A opositora do regime de Maduro atribuiu o enfraquecimento da democracia no país à "concentração das receitas do petróleo no Estado" que, segundo ela, "criou incentivos perversos".
"Deu ao Governo um poder imenso sobre a sociedade, que se transformou em privilégios, clientelismo e corrupção", argumentou.
"Quando percebemos o quão frágeis as nossas instituições se tornaram, um homem que já havia liderado um golpe militar para derrubar a democracia foi eleito Presidente", disse, referindo-se ao antigo presidente Hugo Chávez que culpa de ter "desmantelado a democracia" no país.
María Corina Machado acusou Chávez de violar a Constituição, corromper as Forças Armadas, censurar a imprensa, manipular as eleições e perseguir dissidentes.
"A riqueza do petróleo não foi usada para elevar, mas para prender", acrescentou.
A filha de Machado subiu ao palco para receber das mãos do presidente do Comité Norueguês do Nobel, Jorgen Watne Frydnesel, o diploma e a medalha de ouro em nome da sua mãe, diante de uma grande ovação de todos os presentes, entre os quais se destacou o rei Harald V da Noruega.
A entrega do prémio coincide com o aumento da presença militar norte-americana nas Caraíbas, num estado de tensão com o Governo de Nicolás Maduro, que Washington acusa de ser um traficante de droga admitindo realizar operações militares em solo venezuelano.
