Milhares de pessoas vão manifestar-se em França contra o racismo e a violência policial
O vice-presidente da Liga dos Direitos do Homem em Bordéus, Manuel Dias Vaz, alerta, em declarações à TSF, que "o racismo tem mais impacto nas camadas mais velhas", lamentando, por isso, que os jovens tenham sido afastados do cenário político.
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Milhares de pessoas vão participar este sábado nas várias manifestações contra o racismo sistémico e a violência policial, em várias cidades francesas, convocadas por mais de 150 Organizações Não Governamentais (ONG), sindicatos e partidos políticos.
A chamada Marcha Unida surge depois de um agente da polícia ter baleado, em junho, um jovem de 17 anos, uma situação que motivou de imediato protestos que se prolongaram por vários dias.
O vice-presidente da Liga dos Direitos do Homem em Bordéus, Manuel Dias Vaz, adianta, em declarações à TSF, que vai participar na marcha, até porque acredita que o racismo está enraizado na sociedade francesa.
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"A França, desde o século XIX, é um país muito afetado pelo racismo e o antissemitismo. Isso é uma coisa crónica, não podemos dizer que foi unicamente a morte desse jovem que a provocou. Há, em França, um movimento antirracista importantíssimo que tem uns certos períodos de afirmação - foi em 1983 com a marcha dos jovens dos bairros e hoje há, ao nível da Europa, e sobretudo em França, leis que são propostas pelas autoridades do Governo, que são leis completamente racistas", alerta.
O também sociólogo refere-se, por exemplo, "à lei que está atualmente em debate sobre a prática da imigração" e acusa ainda o ministro francês do Interior de fazer declarações racistas.
"As declarações do ministro do Interior francês, que propõem aos organismos de habitação social expulsar as famílias dos delinquentes, é uma diretiva extremamente racista e injusta", considera.
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O papa, que está de vista a Marselha, em França, apelou esta sexta-feira para que os países recebam os migrantes de braços abertos.
"O papa Francisco é uma ilustre figura que, nesse aspeto, tem tido atitudes e discursos exemplares. Por isso é que uma parte dos católicos franceses também adere à manifestação e à luta contra o racismo. Mas em França sempre houve uma grande componente da Igreja que esteve sempre ao lado das forças progressistas na luta contra o racismo, sobretudo na Igreja protestante, mas também na Igreja Católica", explica Manuel Dias Vaz, que avança que em França, os casos de racismo contra os migrantes se devem, em parte, ao medo.
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"A totalidade do sistema democrático europeu que está contaminado, porque o velho continente, que é a nossa Europa, está envelhecida", lamenta, afirmando que "o racismo tem mais impacto nas camadas mais velhas do que na juventude". O vice-presidente da Liga dos Direitos do Homem em Bordéus denuncia ainda que os jovens, nas sociedades modernas, foram afastados do cenário político.
"Os jovens não estão muito presentes, nem nas instituições, nem nos aparelhos políticos. O problema é que essa componente de população, que é antirracista, não tem poder ou não está nas instituições do poder. Quem dirige os países são pessoas entre os 40 e os 80 anos. A juventude e uma parte das mulheres estão mais longe do exercício do poder e isso é que faz estes hiatos entre uma parte da sociedade e depois o comportamento que nos dirige", defende.
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Manuel Dias Vaz identifica, por isso, três tipos de racismo: "Há o racismo da sociedade, o racismo político, sobretudo da Reunião Nacional - o grande partido da extrema-direita - que é importante em França, como noutros países da Europa, e o racismo sistémico ou institucional, que vem das instituições, que é o mais perigoso, porque é mais difícil de combater do que os outros tipos de racismo."
Para as manifestações deste sábado foram mobilizados 30 mil polícias.