Joseph Ratzinger foi Papa entre 2005 e 2013, quando abdicou e passou a ser emérito da diocese de Roma.
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Após 17 anos, volta a haver apenas um Papa - Bento XVI morreu este sábado, aos 95 anos, anunciou esta manhã o Vaticano.
Até ser eleito Papa, em abril de 2005, chamavam-lhe "o Rottweiler de Deus" - um vigilante dos valores tradicionais da Igreja, dogmático, inflexível, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, responsável por manter a "pureza" da Igreja. Ao longo de oito anos de pontificado, foi assim em muitos aspetos, noutros adotou uma postura inédita.
Joseph Ratzinger escolheu o nome em homenagem a Bento XV, que liderou a Igreja em um período atormentado pela Primeira Guerra Mundial, numa altura em que a instituição enfrentava aquela que seria outra grande crise. Quando surgiam as primeiras acusações de abusos sexuais, Bento XVI surpreendeu muitos ao admitir "o pecado no seio da Igreja", encontrou-se com as vítimas, pediu desculpa, expulsou do Vaticano nomes de peso.
O próprio foi alvo de críticas, acusado de inação diante dos abusos sexuais cometidos contra menores quando era arcebispo de Munique, entre 1977 e 1982. Após a revelação de relatório independente na Alemanha, este ano, reiterou o pedido de "perdão" às vítimas de violência sexual cometida por membros do clero, mas garantiu que jamais encobriu padres que cometiam abusos durante o período em que ocupou cargos na Igreja Católica.
Nós mesmos fomos arrastados para esta grande falha quando a negligenciámos ou quando não a enfrentámos com a decisão e a responsabilidade necessárias, como acontece com muita frequência e ainda acontece", afirmou o Papa emérito.
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O sucessor de João Paulo II ficou ainda conhecido pela sua posição conservadora face a questões como a sexualidade, homossexualidade, feminismo, música rock e até livros do Harry Potter. Foi também o responsável pelo afastamento de teólogos mais liberais, como o brasileiro Leonardo Boff ou o norte-americano Charles Curran.
Por outro lado, foi o primeiro Papa a usar o Twitter, em 2012, e o primeiro chefe da Igreja Católica a entrar na Mesquita da Rocha, o terceiro lugar mais santo do Islão, onde pediu abertura de diálogo contra "mal-entendidos do passado".
Bento XVI realizou 24 viagens ao estrangeiro, incluindo uma visita a Portugal, entre 11 e 14 de maio de 2010, com passagens por Lisboa, Fátima e Porto.
Antes de chegar ao cargo mais alto da Igreja, Joseph Ratzinger foi nomeado Cardeal em 1977 e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé em 1981, Decano do Colégio Cardinalício desde 2002.
Ratzinger nasceu em Marktl am Inn, na Alemanha, a 16 de abril de 1927 - sábado de Aleluia, filho de um comissário da polícia e de uma cozinheira. Tinha seis anos quando o regime nazi chegou ao poder e já estava no seminário quando, em 1941, se juntou
à juventude hitleriana, apesar de a família se opor ao regime, chegando a ser alistado para os serviços auxiliares antiaéreos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.
Terminado o conflito, estudou filosofia e teologia em Munique e em junho de 1951 foi ordenado sacerdote. Desempenhou funções como professor de dogma e teologia em várias universidades alemãs, antes de se tornar consultor do Vaticano e em 1977, arcebispo de Munique.
Em 2012 foi notícia o seu mordomo Paolo Gabriele, condenado a ano e meio de prisão por "roubo agravado" por ter tirado ao secretário particular do Papa documentos confidenciais, incluindo correspondência ultrassecreta dirigida a Joseph Ratzinger, e de os ter fotocopiado para os transmitir para o exterior.
Bento XVI foi o mais velho a ser eleito Papa desde 1730 (tinha 78 anos) e, em 2020, quando completou 93 anos e quase cinco meses, tornou-se o pontífice católico com mais anos de vida. Fica para a História, sobretudo, por ter sido o primeiro Papa a renunciar ao cargo em sete séculos, alegando motivos de saúde. Passou os últimos anos de vida em reclusão no mosteiro do Vaticano Mater Ecclesiae, "como uma vela que, lenta e serenamente, se apaga", nas palavras do seu secretário pessoal.