Sexo e contraceção. 44% das mulheres em 68 países não podem tomar decisões informadas sobre o próprio corpo
Um relatório do Fundo da ONU para a População indica que há uma maior tendência dos governos para adoptar políticas de natalidade, mas, muitas vezes, essas políticas põem em causa os direitos das mulheres.
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As Nações Unidas pedem mais apoios para a fertilidade e as mulheres. O apelo é feito num relatório do Fundo da ONU para a População, que é apresentado esta quarta-feira. O documento indica que, apesar de haver uma maior tendência dos governos para adoptar políticas de natalidade, essas políticas põem, muitas vezes, em causa os direitos das mulheres.
A ONU entende ainda que, ao invés de criar preocupações, a marca de uma população mundial de oito mil milhões de pessoas deve ser encarada como uma oportunidade.
No relatório divulgado esta quarta-feira, o Fundo das Nações Unidas para a População recomenda que os governos instituam políticas de igualdade e direitos de género, como programas de licença parental, incentivos fiscais para quem tem filhos e acesso universal à saúde e direitos sexuais e reprodutivos.
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As Nações Unidas consideram que estas políticas oferecem uma fórmula comprovada que irá colher dividendos económicos e conduzir a sociedades resilientes capazes de prosperar, independentemente da forma como as populações mudam.
Eis o que está em causa: com as políticas para o controlo da natalidade, as mulheres são capazes de fazer livremente as próprias escolhas reprodutivas? A resposta é não, diz a ONU.
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O documento nota que 44 por cento das mulheres e raparigas em 68 países não têm o direito de tomar decisões informadas sobre os próprios corpos quando se trata de ter relações sexuais, usar contracepção e procurar cuidados de saúde. E mais: 257 milhões de mulheres em todo o mundo têm uma necessidade não satisfeita de contracepção segura e fiável.
"Oito mil milhões de vidas, possibilidades infinitas." É este o mote para o relatório sobre o estado da população mundial. A ONU sublinha a "ansiedade globalizada", pelo facto haver cada vez mais pessoas no mundo, mas diz que os governantes estão a fazer a pergunta errada.
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O relatório destaca ainda o facto de a demografia global estar a mudar de forma acentuada: dois terços das pessoas vivem em contextos de baixa fertilidade, enquanto oito países são responsáveis por metade do crescimento previsto da população mundial até 2050: a Índia, o Paquistaão e as Filipinas, na Ásia, e os restantes cinco em África.
Outra ideia sublinhada no documento é que não faz sentido culpar a fertilidade pelas alterações climáticas: mais de metade da população mundial não ganha o suficiente para contribuir de forma significativa para as emissões de carbono.
De resto, indica a ONU, uma maior paridade de género na força de trabalho faria mais para sustentar economias em sociedades envelhecidas e de baixa fertilidade do que estabelecer metas para que as mulheres tenham mais filhos.