"Não há vontade para implementar solução dos dois Estados, mas tem de se avançar nessa direção"
Vítor Ângelo, antigo secretário-geral adjunto da ONU, acredita que esta solução não será adotada "nos próximos tempos".
Corpo do artigo
O antigo secretário-geral adjunto da ONU Victor Ângelo volta a defender que o conflito entre Israel e o Hamas só se resolve adotando a solução dos dois Estados, mas isso é algo que ainda vai demorar.
"Do lado de Israel e do lado de outros atores, incluindo o Hamas, não há grande vontade de avançar para a solução dos dois Estados, mas tem de se avançar nessa direção", reitera.
Vítor Ângelo recorda que há 30 anos que a comunidade internacional "anda a tentar transformar essa ideia numa realidade".
"É fundamental que haja um Estado palestiniano viável, respeitado por Israel, e que ao lado do Estado palestiniano haja um Estado israelita também seguro e que possa conviver em paz com o Estado palestiniano. Essa é que é a solução, mas não vejo nos próximos tempos essa solução a ser implementada", reconhece.
TSF\audio\2023\10\noticias\23\vitor_angelo_1_dois_estados
Prova disso é o chumbo recente de duas resoluções no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nos próximos dias vai ser votada uma terceira resolução que deverá ter o mesmo destino, acredita Vítor Ângelo.
"Esta resolução provavelmente também irá sofrer o mesmo que as outras sofreram, ou seja, vai ser votada provavelmente pela Rússia, até porque esta resolução, que é bastante extensa, tem duas falhas muito importantes: não fala em corredores humanitários, não menciona a necessidade de se estabelecer esses corredores, e, por outro lado, e essa é a segunda grande falha da resolução americana que está para ser discutida, não fala das pausas humanitárias, que são absolutamente indispensáveis para que o trabalho dos humanitários possa ter lugar", explica.
A Faixa de Gaza está sob um bloqueio israelita terrestre, aéreo e marítimo desde que o Hamas tomou o poder no território com 2,3 milhões de habitantes em 2007.
Desde 9 de outubro, dois dias após o início da guerra com o Hamas, Israel impôs um cerco total à Faixa de Gaza e cortou o abastecimento de água, eletricidade e alimentos.
A atual guerra entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes de comandos do grupo islamita em território israelita, a 7 de outubro, que provocou 1400 mortos.
Em resposta, Israel tem bombardeado o território palestiniano, cujas autoridades assinalaram a morte de cerca de 4700 pessoas pelos ataques israelitas.