Ralihlahla Dalibhunga Mandela, de seu nome original, nasceu em 18 de Julho de 1918, numa vila chamada Mvezo, no Transkei, na atual província sul-africana de Cabo Leste. Aos 7 anos passa a frequentar a escola primária de Qunu, uma vila próxima da sua aldeia tribal. Seguindo o costume de dar nomes ingleses a todas as crianças que frequentavam a escola, a sua primeira professora, chamada Mdingae, atribui-lhe o nome de Nelson, em homenagem ao almirante Horatio Nelson.
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Nascido numa família da nobreza tribal, era um dos 13 filhos da terceira mulher de Nkosi Mandela, um influente chefe do povo Thembu, do clã dos Madiba. Órfão de pai ao 9 anos, Mandela é enviado para a vila capital da região, onde passa a frequentar a escola vizinha à residência real, confiado aos cuidados do regente do povo Tembu. Após a conclusão dos estudos secundários em Fort Beaufort, muda-se para Alice, em Porto Elizabeth, onde ingressa na faculdade de Direito.
Logo no primeiro ano do seu curso, começou a sua luta contra o regime do apartheid, regime que segregava os negros, a quem não era reconhecida a maioria dos direitos políticos, económicos e sociais. Líder de um movimento estudantil que militava contra a políticas segregacionistas, foi expulso da universidade, facto que o levou a transferir-se para a Universidade da África do Sul (UNISA), em Johanesburgo, onde terminou o curso de Direito por correspondência.
Aos 24 anos uniu-se ao Congresso Nacional Africano (CNA), para em 1944 fundar, com Walter Sisulu e Oliver Tambo a Liga Jovem do CNA .
Da Carta da Liberdade a comandante do MK Com a vitória dos afrikaners (Partido Nacional) nas eleições de 1948, que apoiava o reforço das políticas de segregação racial, Mandela tornou-se mais ativo no seio do CNA, iniciando um longo caminho de luta que levaria à aprovação, no Congresso do Povo em 1955, da Carta da Liberdade, documento guia do programa político fundamental para a causa anti-apartheid.
O massacre de Sharpeville, em Março de 1960 - onde a polícia abriu fogo direto sobre manifestantes negros matando 69 pessoas e ferindo 180 - marca a viragem da ação política por meios não violentos para a fase da luta armada. Em 1961, Mandela torna-se comandante do braço armado do CNA ("Lança da Nação" ou MK), promovendo uma campanha de sabotagem contra alvos militares e governamentais.
Durante cerca de um ano recebe treinamento militar em Marrocos e na Etiópia, e de regresso ao país é preso e condenado a 5 anos de cadeia, em agosto de 1962. Foragido, é novamente preso e condenado a prisão perpétua por sabotagem e conspiração, em 1964 .
Durante 27 anos encarcerado na minúscula e lendária cela 46664, Nelson Mandela tornou-se no símbolo universal da luta contra o apartheid. Por diversas vezes, na década de 70, e na sequência da campanha internacional "Libertem Nelson Mandela", ele recusou uma revisão da pena e, em 1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta armada.
Mandela continuou a ser o preso 46664, até que a campanha do CNA e a pressão internacional conseguiram a sua libertação em 11 de fevereiro de 1990, aos 72 anos, por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk, com quem viria a dividir o Prémio Nobel da Paz em 1993.
A viragem do regime e o fim do apartheid
Em Julho de 1991 Mandela é eleito presidente do CNA, cargo que ocupa até Dezembro de 1997, tornando-se em Maio de 1994 o primeiro presidente negro da África do Sul. Durante a sua presidência, até Junho de 1999, Nelson Mandela lidera a transição do regime de minoria, consolidando o respeito internacional pela sua luta em prol da reconciliação interna e externa.
Terminado o seu mandato presidencial, aos 81 anos, o grande líder sul-africano virou-se para as causas sociais e dos direitos humanos, de que releva, entre outras, a campanha de recolha de fundos contra o HIV chamada "46664", à memória do seu número de cela enquanto prisioneiro político.
Agraciado com as mais altas condecorações, Mandela recebeu, entre muitas outras, a Ordem de St. John, da Rainha Isabel II, a medalha da Liberdade, de Georeg W.Bush, o Bharat Ratna, a mais alta distinção da Índia, e a Ordem do Canadá.
Em Junho de 2004, aos 85 anos, Mandela anunciou a sua retirada da vida política, não sem continuar a ser uma referência de primeira grandeza na cena internacional, e um verdadeiro ídolo no seu país, convertendo o Soweto na Meca da luta pelos direitos humanos e pela igualdade entre os homens. A ONU instituiu, a partir de 2010, o dia 18 de Julho de cada ano como o Dia Internacional Nelson Mandela (dia do seu nascimento), como forma de valorizar em todo o mundo a luta pela liberdade, pela justiça e pela democracia.
Mandela casou pela primeira vez em 1944 com Evelyn Mase, de quem se divorciou 13 anos mais tarde. Em 1958 casa com Winnie Madikizela Mandela, a quem ficou unido durante 38 anos. O seu terceiro casamento foi com Graça Machel, viuva do presidente moçambicano Samora Machel, com quem vive atualmente.
Desde o final de 2012 até ao presente, Nelson Mandela tem registado graves problemas pulmonares, com diversos internamentos hospitalares, tendo em diversos momentos sido dado como estando na reta final da sua vida. A cada notícia do agravamento da saúde de Madiba, como é carinhosamente chamado entre o seu povo, a consternação coletiva apodera-se dos sul-africanos, ao ponto do Presidente da República, Jacob Zuma, ter vindo a público, por diversas vezes, apelar à calma da população.
Hoje terminou a história do homem que um dia disse: «Sonho com o dia em que todas as pessoas levantar-se-ão e compreenderão que foram feitas para viverem como irmãos».