O presidente francês pediu à Turquia respeito pelas convicções francesas, frisando que a «França não dá lições a ninguém, mas também não as recebe».
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«Eu respeito as convicções dos nossos amigos turcos, é um grande país, uma grande civilização, eles devem respeitar as nossas», declarou Sarkozy à imprensa francesa em Praga, onde se deslocou para assistir às cerimónias fúnebres do antigo presidente checo Vaclav Havel, citado pela agência noticiosa francesa APF.
«A França não dá lições a ninguém, mas a França também não as recebe», disse.
Depois de ter anunciado na quinta-feira o congelamento da cooperação política e militar com a França, após a aprovação pelo parlamento francês do projecto-lei que condena a negação do genocídio arménio, a Turquia subiu hoje de tom.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyipe Erdogan, acusou o presidente francês de jogar com «o ódio ao muçulmano e ao turco» com fins eleitorais e a França de ter cometido «um genocídio» na Argélia.
Numa conferência de imprensa em Istambul, Erdogan apelou à França para assumir o seu próprio passado.
«Calcula-se que 15 por cento da população argelina foi massacrada pelos franceses a partir de 1945. Trata-se de um genocídio», declarou, numa referência às violências durante o processo de independência da Argélia do domínio francês, entre 1945 e 1962.
«Se o presidente francês Sarkozy não sabe que houve um genocídio, ele pode perguntar ao pai Pal Sarkozy (...) que foi legionário na Argélia nos anos 1940», adiantou. «Tenho a certeza que ele [Pal Sarkozy] tem muito a dizer ao filho sobre os massacres cometidos pelos francesas na Argélia», acrescentou.
O texto aprovado pela Assembleia Nacional prevê um ano de prisão e 45 mil euros de multa pela negação de um genocídio reconhecido pela lei francesa, que legitima a existência de dois genocídios, de arménios e de judeus, ocorridos no século XX durante as duas guerras mundiais.
Paris reconheceu a existência do genocídio arménio, que terá provocado 1,5 milhões de mortos entre 1915 e 1917, pela lei de 20 de Janeiro de 2001.
Apesar de reconhecer que até 500 mil pessoas terão sido mortas nesse período, a Turquia considera que foram vítimas do contexto em que decorreu a Primeira Guerra Mundial e não de um genocídio premeditado.