"O desespero está a tomar conta das pessoas. Os camiões estão a apitar a noite toda em sinal de revolta"
Milhares de motoristas de veículos pesados tentam atravessar o Canal da Mancha. Frederico Sousa, que já atravessou a fronteira, descreve uma situação de desalento e desespero, sem alimentos, água, cuidados médicos ou condições para ir à casa de banho.
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À espera. É assim que continuam os milhares de motoristas de veículos pesados, retidos em Inglaterra na esperança de um sinal verde para atravessar a fronteira para vários países da Europa. "Passámos de heróis a bestas. Fomos tratados como heróis quando começou a Covid. 'Não parem, precisamos de vocês, forneçam-nos comida.'" Frederico Sousa é um dos motoristas portugueses que conseguiu atravessar a fronteira, mas não esquece a imagem que deixou para trás.
"Não há ninguém que olhe para aqueles homens e mulheres", lamenta Frederico Sousa, que fala mesmo de colegas mulheres "que andam aí sem o mínimo de condição de higiene", sem poderem ir a uma casa de banho. É uma "vergonha total", nas palavras do motorista.
Frederico Sousa critica a inação das autoridades e salienta que uma atitude, a ser tomada, já se faz esperar. "A polícia inglesa não faz nada, não querem saber de nada. Ontem à noite distribuíram águas e meia dúzia de refeições, mas estamos a falar de milhares de camiões, não é? Aquilo não chega para todos."
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À TSF, o motorista de pesados conta que "circula um boato de que têm de se deslocar todos para o aeroporto que foi efetivamente feito há coisa de um ano", onde se deverá instalar uma "espécie de hospital de campanha, onde serão feitos testes rápidos de Covid", mas o que poderia ser visto como uma solução pode criar novos problemas. "Quem acusar negativo, passa para o outro lado. Será feita uma escolta policial até aos portos de desembarque para as pessoas começarem a passar."
"O que vai acontecer a quem acusar positivo? Vão ficar presos dentro do seu camião, sem água, sem comida, sem cuidados médicos? Quanto tempo é que vai demorar a tirar as pessoas dali?", questiona Frederico Sousa.
Na fila há já muitas horas, os motoristas estão revoltados. As buzinas fazem-se ouvir nas longas filas de camiões entre o porto de Dover e o porto francês de Calais.
"O desespero está a tomar conta das pessoas. Os camiões estão a apitar a noite toda em sinal de revolta."
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