O desespero no cockpit da Lion Air para tentar resolver o problema dos Boeing 737 Max 8
Piloto e copiloto procuraram desesperadamente uma solução para o problema que fez o nariz do avião oscilar para cima e para baixo. A falha acabou por provocar a queda do aparelho e possivelmente a queda do avião da Ethiopian Airlines este mês.
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Os pilotos do Boeing 737 Max 8 que em outubro se despenhou no mar, ao largo de Java, com 189 pessoas a bordo, fizeram de tudo para corrigir os problemas do avião.
A investigação deste acidente na Indonésia reveste-se de especial relevância numa altura em que se tentam apurar as causas da queda do voo 302 da Ethiopian Airlines, que este mês se despenhou com 157 pessoas a bordo.
Os dois acidentes têm contornos semelhantes, pelo que as gravações de voz do cockpit da Lion Air estão a ser novamente analisadas e três fontes revelaram à Reuters o seu conteúdo.
Dois minutos depois da descolagem, reportou "um problema em controlar o voo" à torre de controlo do tráfego aéreo do aeroporto de Jacarta. Não especificou de que se tratava mas a velocidade do avião foi mencionada.
Confrontados com valores erráticos dos indicadores de velocidade e de altitude, o piloto pediu ao copiloto que tentasse encontrar no manual de voo uma referência ao problema.
Devido a um erro no novo sistema automático de estabilização, criado para corrigir a posição do nariz do avião - uma novidade do Boeing 737 Max - os pilotos estavam a receber leituras incorretas do sensor e a tripulação não conseguiram desligá-lo.
Em resultado, o nariz do avião foi forçado a baixar mais de uma dúzia de vezes no espaço de 11 minutos até que a perda de controlo foi total e o aparelho caiu no oceano a mais de 700 quilómetros por hora.
Além disso, o sistema de compensadores (trims) foi ativado, mas os tripulantes pareciam não o saber. No cockpit só se falava em velocidade e altitude.
De acordo com a investigação, uma outra tripulação que operou o avião na véspera deparou-se com o mesmo problema mas conseguiu resolvê-lo ao verificar três listas e não transmitiram qualquer informação sobre o caso à equipa que se seguiu.
Os pilotos do voo 610 da Lion Air mantiveram-se calmos durante a maioria do voo. Nos últimos minutos, o piloto ainda pediu ao copiloto para assumir os controlos do avião enquanto procurava uma solução no manual.
"É como fazer um teste em que há 100 questões mas quando o tempo chega ao fim só tivemos tempo para responder a 75", comparou uma das fontes ouvidas pela Reuters. "Então entra-se em pânico, é uma situação de 'time-out'."
O piloto ainda pediu à torre de controlo para que libertasse o espaço aéreo abaixo dos tês mil pés para uma aterragem de emergência que nunca conseguiu fazer.
No fim, o homem de 31 anos, nascido na índia, estava em silêncio. O copiloto, de 41 anos e natural da Indonésia, disse apenas "Allahu Akbar" - "Deus é grande".
As duas caixas negras do avião Boeing 737 MAX 8 da Ethiopian Airlines estão a ser analisadas em França. Só depois serão conhecidos em detalhe as gravações de voz do cockpit e os dados do voo.
Já se sabe que há "semelhanças claras entre o voo 302 da Ethiopian Airlines e o voo 610 da Lion Air", mas não foram reveladas quais. O relatório preliminar sobre as causas do acidente na Etiópia será divulgado dentro de 30 dias.
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