Joshua Wong quer importar para Hong Kong, a Primavera Árabe. A revolta do povo egípcio inspirou-o a ir para a rua e exigir democracia na terra que foi entregue à China quando ele ainda não era nascido. Tem milhares de seguidores e confiança que vai mudar o rumo da história.
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Wael Ghonim liderou a primavera árabe no Egito, Joshua Wong quer fazer o mesmo em Hong Kong. O jovem estudante de 17 anos tem sido o rosto mais visível da revolta que tomou conta da antiga colónia britânica.
Wong defende o ativismo social e na não violência, e já demonstrou que conhece bem o impacto que as novas tecnologias e a internet podem ter como arma imbatível de combate.
No Egito, foi o principal instrumento da luta de Wael Ghonim. Ele utilizou o uma página de Facebook para mobilizar a população. O gesto valeu-lhe uma detenção, e o mesmo aconteceu com Joshua. Em ambos os casos, só serviu para exacerbar o apoio popular.
Na cidade chinesa, aconteceu no passado fim-de-semana, quando Joshua Wong pediu aos opositores para ocuparem a Praça Cívica. Centenas de pessoas responderam ao repto. Wong acabou por ser preso, mas a imagem da sua detenção deu origem a uma adesão ainda mais massiva ao protesto. As centenas deram lugar a milhares de apoiantes na rua.
Joshua Wong nasceu nove meses antes de o Reino Unido entregar o controlo de Hong Kong à China, em 1997. Aos 14 anos criou uma grupo estudantil, chamado "Scholarism" e rapidamente chegou à linha da frente da contestação política e conseguiu ocupar um lugar de referência na sociedade civil na luta por eleições livres, em 2017.
Entrevistado pelo jornal espanhol "El Mundo", Joshua diz que não sente « o herdeiro da geração Tiananmen. Considero antes que se a história escolheu a minha geração para lutar por um futuro melhor, nós temos de assumir as nossas responsabilidades».
Nesta entrevista, o jovem de 17 anos recusa o papel de líder da contestação. «Não posso assumir essa responsabilidade. Tenho uma grande confiança nos cidadãos de Hong Kong, no seu valor e na sua consciência política. Toda a gente pensava que a nossa detenção iria terminar com o protesto, mas não foi assim. Quando fui detido, com mais dois colegas, o povo organizou-se. Estamos a falar em 200 mil pessoas que saíram à rua. Julgo que é algo sem precedentes na história dos movimentos civis que lutam pela democracia».
Apesar de reconhecer que o cansaço está já a tomar conta dos manifestantes, Joshua diz que é otimista e por isso acredita que não vão desistir, mas não arrisca um prazo para acabar com o protesto. «Há dois anos, o meu movimento ocupou a sede do governo durante dez dias para exigir que retirassem do programa escolar uma matéria que era uma espécie de "lavagem cerebral". Penso que, neste caso, serão necessários muitas mais dias para aumentar a pressão sobre o governo».
Até lá, até ao fim do protesto, Joshua Wong espera que tudo decorra de forma pacífica, sem recurso à violência. Sobre a reação de Pequim a estes acontecimentos, Joshua não acredita que o regime tenha receio que se alastrem a outras regiões da China. A informação sobre os protestos não chega ao território chinês. No entanto, o governo está «preocupado com Taiwan».
Questionado sobre o que o inspirou para ser político tão jovem, Joshua Wong responde que «não me inspirei em nada. Só quero um futuro melhor para Hong Kong».