Depois da Polónia, também a República Checa garante que vai continuar a apoiar o governo húngaro. Sairão as sanções aprovadas pelo Parlamento Europeu da esfera de intenções?
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Esta quarta-feira, o Parlamento Europeu deu luz verde à adoção de sanções à Hungria. Os eurodeputados decidiram acionar o artigo 7º para punir o governo de Viktor Orbán por não respeitar os princípios democráticos. No entanto, a decisão final cabe aos chefes de Estado e de Governo dos 27 países.
O primeiro-ministro checo já veio dizer que a Hungria é uma aliada e, por isso, vai manter-se ao lado de Orbán.
O processo de aplicação de sanções à Hungria pode assim não passar do papel. José Teixeira Fernandes, do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) explica , em declarações à TSF, que o procedimento não deve avançar porque será difícil um consenso.
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"Isto implica decisões ao nível do Conselho, onde estão os ministros que representam os Estados membros, e ao nível do Conselho Europeu, onde estão os chefes de Estado e Governo. As exigências são muito significativas do ponto de vista do consenso dos Estados: 4/5 para o Conselho ao nível dos ministros e unanimidade para o Conselho ao nível europeu. A Polónia já fez saber que não apoia uma medida deste tipo e é provável que outros Estados, sobretudo no Centro Leste se demarquem disso. As circunstâncias políticas atuais tornam muito improvável que o processo avance nas instituições da União Europeia".
Caso este processo não tenha efeitos práticos, o professor do Instituto Português de Relações Internacionais sublinha que haverá consequências negativas para a Hungria, mas há também o risco de Viktor Orbán sair ainda mais forte.
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"Este processo vai dar visibilidade negativa ao país, dá mais legitimidade aos críticos e tem um impacto político inquestionável. Mas, existe o cenário de que possa aumentar o poder dos partidos mais europeístas na Hungria... também é possível que isto seja revertido a favor do próprio Viktor Orbán, ele é muito hábil a reverter situações a seu favor e a manipular a opinião pública. Já existe um discurso de vitimização, de uma União Europeia vingativa, de uma vingança contra o povo na Hungria. O que pode reforçar ainda mais a sua posição, e neste momento isso é uma incógnita".
José Teixeira Fernandes diz ainda que o Partido Popular Europeu poderá ser o mais afetado por este processo de sanções à Hungria, uma vez que é preciso ter em conta que no próximo ano realizam-se as eleições europeias.
Depois da aprovação no Parlamento Europeu da proposta de sanções à Hungria - por desrespeitar as regras da UE sobre democracia, direitos civis e corrupção - o país de Orbán veio anunciar que vai tentar encontrar meios legais para desafiar o voto, que considera ser uma "vingança mesquinha".