Obama: Administração Trump passou "anos a queixar-se da cultura de cancelamento" para agora a elevar a "novo e perigoso nível"
O antigo chefe de Estado norte-americano sublinha que a Primeira Emenda foi "concebida" para impedir "precisamente este tipo de coerção governamental"
Corpo do artigo
O ex-Presidente dos EUA Barack Obama acusou esta quinta-feira a Administração Trump de exercer pressão sobre os meios de comunicação, restringindo a liberdade de expressão e lamentou que tenha passado "anos a queixar-se da cultura de cancelamento" para agora a elevar a "um novo e perigoso nível".
"Após anos a queixar-se da cultura do cancelamento, a atual Administração levou-a a um novo e perigoso nível, ameaçando rotineiramente a comunicação social com medidas regulatórias, a menos que estas silenciem ou demitam jornalistas e comentadores de que não gosta", escreveu esta quinta-feira o antigo chefe de Estado norte-americano na plataforma X, sem mencionar o nome do atual Presidente, Donald Trump.
Apelou ainda às empresas de comunicação social norte-americanas para que se defendessem contra a "coação estatal".
"As empresas de comunicação social devem resistir, em vez de ceder", sublinhou o político do Partido Democrata.
Barack Obama completou o argumento afirmando que a Primeira Emenda foi "concebida" para impedir "precisamente este tipo de coerção governamental".
O antigo Presidente anexou uma reportagem do New York Times sobre a demissão da colunista do Washington Post Karen Attiah, uma jornalista negra que foi despedida após ter criticado a violência armada nos EUA e a inércia da "América branca". O comentário surgiu depois do atentado contra o militante de extrema-direita Charlie Kirk. Segundo Attiah, o jornal acusou-a de "conduta imprópria" que colocava em risco a "segurança física dos colegas". O Washington Post ainda não se pronunciou sobre o caso.
Desde que assumiu o cargo em janeiro, Donald Trump tem agido de forma sem precedentes contra os media, adversários políticos, universidades e escritórios de advocacia. Desde o assassínio de Kirk, há pouco mais de uma semana, a Administração norte-americana tem intensificado a repressão contra os críticos. O atual chefe de Estado processou, inclusive, o New York Times por difamação, exigindo uma indemnização de 15 mil milhões de dólares (cerca de 12,7 mil milhões de euros).
Trump também considerou "ótima" a decisão da emissora ABC de cancelar o programa noturno do humorista Jimmy Kimmel, que lamentou a reação do círculo de Trump ao homicídio de Kirk. O Presidente exigiu que os programas de outros dois humoristas também fossem cancelados.
Obama acusou, por isso, a Administração Trump de, após anos de reclamações sobre a "cultura do cancelamento", recorrer agora a esse mesmo recurso.
Por "cultura do cancelamento" entende-se uma forma de ostracismo social em que indivíduos, grupos ou instituições são publicamente denunciados por declarações impopulares.
