ONU diz que 30 pessoas que deixaram fábrica de Azovstal rejeitam sair de Mariupol
"Alguns deles podem ter medo de sair", diz a coordenadora humanitária das Nações Unidas para a Ucrânia.
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As Nações Unidas informaram esta terça-feira que cerca de 30 pessoas que saíram do complexo industrial siderúrgico Azovstal, em Mariupol, preferiram não deixar a cidade ucraniana para tentar descobrir o paradeiro dos familiares, estando "horrorizadas" com a devastação.
Numa conferência de imprensa virtual a partir da cidade de Zaporizhzhia, a coordenadora humanitária das Nações Unidas para a Ucrânia, Osnat Lubrani, afirmou que esta operação bem-sucedida de retirada de civis de Mariupol poderá ser "um trampolim para mais operações desse tipo" noutras cidades bombardeadas pelos russos.
Osnat Lubrani disse ter "conhecimento de que ainda há civis presos na fábrica de Avostal", mas a ONU não tem números exatos.
"Alguns deles podem ter medo de sair, alguns deles provavelmente não conseguiram", disse a coordenadora.
"É uma área enorme" e alguns dos idosos tinham dificuldades em locomover-se, mesmo que um autocarro com pneus furados tenha sido utilizado para ajudar alguns civis a fugir.
Referindo-se aos cidadãos que queriam ficar em Mariupol, Osnat Lubrani afirmou que "são pessoas que viveram as suas vidas e trabalharam em Mariupol e, por isso, foi difícil para elas sair sem saber qual o destino dos seus entes queridos".
A coordenadora informou que as pessoas ainda presas no subsolo na fábrica de Avostal irão ter conhecimento sobre a evacuação segura para Zaporijia, esperando que apareçam mais interessados numa próxima operação de retirada de civis.
A ONU anunciou hoje a retirada "bem-sucedida" de 101 civis há semanas encurralados no complexo industrial siderúrgico de Azovstal, na cidade ucraniana de Mariupol, cercada pelo exército russo que, entretanto, lançou sobre ela uma nova ofensiva.
"Estou feliz e aliviada por confirmar que 101 civis foram retirados com êxito da fábrica siderúrgica de Azovstal, em Mariupol", declarou Osnat Lubrani, citada num comunicado.
Segundo a responsável, mais 58 pessoas foram retiradas de Manhush, uma cidade nos arredores de Mariupol, no sudeste do país, no âmbito desta operação coordenada pelas Nações Unidas e o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e iniciada a 29 de abril, com o acordo das partes em conflito, na sequência de compromissos feitos pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, nas suas recentes visitas a Moscovo e Kiev.
"Hoje, acompanhámos 127 pessoas a Zaporijia, cerca de 230 quilómetros a noroeste de Mariupol, onde estão a receber assistência humanitária inicial, incluindo cuidados médicos e psicológicos, das agências especializadas da ONU, do CICV e dos nossos parceiros humanitários", indicou Osnat Lubrani, precisando que "algumas das pessoas resgatadas decidiram não ir para Zaporizhzhia com a coluna".
O CICV informou, quase ao mesmo tempo, que a operação durou cinco dias e que, enquanto a coluna de autocarros e ambulâncias saía da cidade, algumas pessoas sozinhas e famílias - algumas a pé e outras em veículos - se lhe juntaram para estarem protegidas.
A Rússia iniciou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar o país vizinho para segurança da Rússia - condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
Cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia, e a guerra, que entrou hoje no 69.º dia, causou até agora a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, mais de 5,5 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que a classifica como a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A ONU confirmou que 3.193 civis morreram e 3.353 ficaram feridos, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.