O antigo presidente egípcio pretende uma amnistia em troca de um pedido de desculpa e da entrega da fortuna pessoal, mas quem se manifestou contra ele não está convencido.
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De acordo com a informação recolhida pelo Washington Post, Hosni Mubarak pretende ir à televisão e dizer ao povo que está disposto a entregar a fortuna pessoal em troca de uma amnistia. A estratégia do antigo presidente passará também por alijar culpas, responsabilizando colaboradores directos pelos erros cometidos.
O propósito de Mubarak merece um rotundo "não" de quem esteve na revolução que levou à queda do regime. Samar Sewilan, médica e professora no Cairo, não acredita nas boas intenções do antigo presidente.
«Todos sabemos que está a mentir, já se soube antes que tem perto de 700 milhões de dólares, muito mais do que está disposto a dar. (...) Ou devolve todo o dinheiro ou merece ficar na cadeia para sempre», comenta.
Apesar de algumas pessoas se mostrarem conformadas com esta situação, Samar considera que seria uma injustiça libertar Hosni Mubarak nestes termos.
Depois dessa libertação, «a família trocaria o Egipto pela Suíça e aí viveriam felizes para sempre com o dinheiro que roubaram ao Cairo», antecipa, lembrando que existem muitas expectativas em torno do dinheiro que terá o antigo presidente.
Apesar de ter já 83 anos, o homem que liderou o país nos últimos 30 está em forma, diz a médica, para quem os problemas cardíacos que Mubarak alega não são mais do que uma desculpa para fugir à justiça, até porque «nunca antes se ouviu que ele tinha problemas cardíacos».
Três meses depois da queda do regime, o balanço não é positivo. A corrupção levada a cabo pela facção que apoia Mubarak continua a minar os sistemas económico e político, garante Samar Sewilan.
Para além disso, os problemas agravam-se com o desemprego, já que «60 ou 70 por cento das pessoas não trabalha».
A recuperação tem de começar pelo trabalho, até porque sem produção em dois meses não haverá alimentos no país, avisa.
Recorrer à ajuda internacional não é uma opção, porque requer taxas que o Egipto não pode pagar. Para liderar uma real mudança, Samar aponta um nome que se destacou na revolta, El Baradei.