Os vigilantes de Irpin ou como apanhar russos infiltrados com "palyanytsa"
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Irpin é uma pequena cidade que fica a noroeste de Kiev. Tem pouco mais de 60 mil habitantes, mas por estes dias tem sido uma espécie de "filtro" para impedir o sucesso dos chamados "sabotadores" russos".
A ponte sobre o rio Bucha já era. Foi destruída pelo exército ucraniano como parte da estratégia para combater os russos, que têm tentado "vestir-se" de civis ucranianos para se infiltrarem.
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Viktor Chelovan é comandante de uma unidade de combate do Exército ucraniano e explica à agência France-Presse que tem alguns dos seus agentes "a viver com os locais". O objetivo é detetar precocemente sinais de atividade russa.
"Se chegar alguém estranho, as pessoas enviam-nos um sinal, ou ligam-nos, e nós vamos lá tratar dos sabotadores", explica.
Tudo começou quando um grupo de paraquedistas conseguiu chegar a um aeródromo às portas de Kiev na quinta-feira. Desde aí, quem vive em Irpin tem visto coisas estranhas no mato.
"Há pessoas que parecem daqui a disparar sobre pessoas que são daqui", lamenta um dos habitantes, que explica que estes agentes russos "entram nos apartamentos das pessoas, roubam-lhes e roupa e voltam à rua a parecer civis".
Os dados reunidos pelo Instituto Nacional de Estudos Estratégicos, em Kiev, parecem confirmar que esta é uma das estratégias implementadas pelos russos.
Ibrahim Shelia, um estudante de 19 anos, não está para isso. Cavou, com os amigos, uma trincheira a partir da qual querem atingir tanques russos com cocktails Molotov. Mas também estão atentos a quem parece estar "fora de pé".
Um dia destes, conta, pararam um carro que estava a levantar suspeitas entre os locais. "Estavam lá dentro quatro pessoas com dois mapas da Ucrânia, dois computadores portáteis e todos tinham dois passaportes ucranianos: uma versão nova e uma velha". Chamaram a polícia, que prendeu todos.
Ninguém melhor do que Viktor Chelovan para resumir o que se passa no terreno: "Há três tipos de sabotadores."
O primeiro é composto por membros das forças especiais russas e da GRU (secretas militares), "que chegaram antes da guerra e cuja principal função era apoiar a invasão russa".
O segundo grupo que "desestabilizar a vida quotidiana".
E o terceiro grupo é composto por "agentes das secretas com o objetivo de matar vários líderes ucranianos". Mas também "os líderes do movimento de resistência popular".
Diga "palyanytsa"
É o nome de um pão ucraniano que nenhum russo parece conseguir pronunciar como dever ser: "palyanytsa".
Os ucranianos pedem a quem suspeitam que seja um agente "infiltrado" que pronuncie a palavra. Em russo significa "morango" e o truque é mais velho do que as guerras.
Mas tal como o armamento, estas táticas também evoluíram. Os voluntários mais novos perguntam aos suspeitos onde fica a agência mais próxima do "Monobank". A armadilha? O banco é 100% virtual, não tem atendimento presencial... Nem balcões.
Pasha, taxista de Kiev, também tem um truque: cantar o sucesso "Oleinïi, Oleinïi", 100% ucraniano e muito recente.
"Começo a cantar e espero para ver se a outra pessoa consegue continuar", explica à AFP.
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