Bloqueio russo aos portos ucranianos. Falta de alimentos pode atingir 323 milhões de pessoas

Issouf Sanogo/AFP
Há cinco anos havia no mundo 80 milhões de pessoas com fome ou em risco de precisarem de ajuda alimentar. O afastamento da Ucrânia do mercado de abastecimento de cereais pode fazer disparar esse número.
A Ucrânia tem 20 milhões de toneladas de cereais armazenadas que não consegue tirar do país. Desde o início da invasão, a Rússia bloqueou os portos do Mar Negro e não parece disposta a recuar. Habitualmente a produção da Ucrânia dá para alimentar 400 milhões de pessoas e por isso esta situação vai ter um grande impacto
Há cinco anos a fome atingia 80 milhões de pessoas, em 2020 o número subiu para os 130 milhões. Depois de 2 anos de COVID 19 há agora 276 milhões que batem à porta das organizações humanitárias. Com a guerra na Europa, o Programa Alimentar Mundial (PAM) calcula que o número possa subir para, pelo menos, 323 milhões.
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O diretor do PAM, David Beasley, tem repetido a ideia de que o mundo enfrenta uma tempestade perfeita. "Estamos a enfrentar uma tempestade sem precedentes, a tempestade perfeita por causa dos conflitos, das alterações climáticas e da COVID. Quando pensávamos que não podia ficar pior surgiu a guerra na Etiópia, voltámos a pensar o mesmo e tivemos a crise no Afeganistão e quando realmente acreditámos que não podia piorar, surgiu a Ucrânia," explicou perante o Conselho de segurança das Nações Unidas.
Neste momento há 43 países que causam maior preocupação porque são os que registam maior escassez de alimentos. Beasley lembra que a fome não provoca apenas morte, é também responsável por situações de agitação social e de migrações em massa e isso já está a acontecer, por exemplo, no Sri Lanka, no Paquistão e no Peru.
O diretor do PAM diz que neste momento o principal problema são os preços dos alimentos, mas em 2023 o problema pode ser já de falta de comida. Se a situação se mantiver, depois da colheita que vai agora começar, os agricultores ucranianos vão deixar de semear os campos porque não vale a pena produzirem para depois os cereais apodrecerem
David Beasley, em Davos, insistiu na necessidade de reabrir os portos do Mar Negro, "o mundo já está muito frágil e agora enfrenta uma grande instabilidade nos mercados por causa dos portos. Temos de os reabrir porque não se pode exportar o suficiente por comboio ou camião. É impossível."
A Rússia tem dito que está disponível para minimizar os riscos mas só quando o ocidente retirar as sanções. São vários os países que acusam Vladimir Putin de chantagem e de estar a usar a fome como arma de guerra. Para além disso, a Ucrânia diz que as forças russas têm agravado a situação bombardeando diversos silos e roubando barcos ucranianos que estavam totalmente carregados.