Poluição atmosférica pode aumentar resistência aos antibióticos, uma das maiores ameaças à saúde global
Um estudo que analisou dados de mais de cem países ao longo de quase duas décadas sugere que a ligação entre os dois fatores tem sido reforçada ao longo do tempo, com o aumento dos níveis de poluição atmosférica a coincidir com aumentos maiores da resistência aos antibióticos.
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Os níveis cada vez mais altos de poluição atmosférica estão a contribuir para o aumento da resistência aos antibióticos, que já é considerada uma das maiores ameaças para a saúde global, segundo um estudo publicado esta terça-feira pela revista médica Lancet.
Sublinhando que a resistência aos antibióticos mata um milhão e trezentas mil pessoas por ano - afetando as várias faixas etárias -, os investigadores da China e do Reino Unido destacam que esta é a primeira análise a mostrar como é que a poluição do ar pode afetar de forma global a resistência aos antibióticos.
A investigação, que analisou dados de mais de cem países ao longo de quase duas décadas, sugere que a ligação entre os dois fatores tem sido reforçada ao longo do tempo, com o aumento dos níveis de poluição atmosférica a coincidir com aumentos maiores da resistência aos antibióticos.
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Hospitais, áreas agrícolas e estações de tratamento de esgoto estão entre as rotas mais comuns de transmissão de bactérias resistentes a antibióticos, que são disseminadas principalmente pelo ar, através de partículas que são liberadas por pessoas ou animais infetados e, depois, inaladas por outros.
Acredita-se que estas partículas muito finas desempenham um papel fundamental na disseminação de bactérias resistentes a antibióticos. Como são minúsculas, entram facilmente nas vias respiratórias e causam doenças potencialmente graves.
Uma vez no sistema humano, as bactérias tornam-se resistentes aos antibióticos ao desenvolverem mutações genéticas que lhes dão uma vantagem de sobrevivência em relação ao medicamento. Essas mutações fazem com que os antibióticos percam a eficácia e, consequentemente, certas doenças deixam de ser tratáveis com esse método. Como os mecanismos de resistência podem evoluir e adaptar-se constantemente, o desenvolvimento de novos antibióticos é cientificamente desafiador e caro.
A poluição atmosférica é já o maior risco ambiental para a saúde pública, sendo que, a exposição a longo prazo a este fator está associada a doenças crónicas como as doenças cardíacas, asma e o cancro do pulmão, reduzindo a esperança média de vida.
Esta relação é identificada em todos os países e continentes, ainda que os autores reconheçam as limitações do estudo porque faltam dados em alguns países.