O mês foi marcado por ondas de calor e incêndios florestais em todo o mundo.
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O passado mês de julho foi o mais quente no mundo desde que há registo, avança esta terça-feira o serviço europeu Copernicus. Foi assim superado o recorde anterior, registado em julho de 2019, em 0,33 graus celsius.
As primeiras três semanas de julho foram o período de três semanas mais quente de sempre. O mês foi 0,33°C mais quente do que o mês que detinha o recorde até agora - julho de 2019, quando se registou uma temperatura média global de 16,63°C. A temperatura do ar foi também 0,72°C mais quente do que a média (1991-2020) em julho.
Estas altas temperaturas estiveram relacionadas com ondas de calor em vários territórios da América do Norte, Ásia e Europa que, juntamente com os incêndios florestais em países como o Canadá e a Grécia tiveram grande impacto na saúde, ambiente e economias.
"No dia 6 de julho, a média diária da temperatura média global do ar à superfície ultrapassou o recorde estabelecido em agosto de 2016, tornando-se o dia mais quente de que há registo, logo seguido dos dias 5 e 7 de julho. A temperatura média global ultrapassou temporariamente o limiar de 1,5 graus celsius, acima do nível pré-industrial durante a primeira e a terceira semanas do mês (dentro dos limites do erro de observação). Desde maio, a temperatura média global da superfície do mar tem estado muito acima dos valores anteriormente observados para esta época do ano, contribuindo para o julho excecionalmente quente", pode ler-se no comunicado do Copernicus.
"As temperaturas recorde fazem parte da tendência de aumento drástico das temperaturas globais. As emissões antropogénicas são, em última análise, o principal motor deste aumento das temperaturas. As previsões sazonais indicam que, nas zonas terrestres, as temperaturas deverão estar muito acima da média, excedendo o percentil 80 da climatologia para a época do ano", explicou na mesma nota Carlo Buontempo, diretor do Copernicus para as alterações climáticas.
Já Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, alertou que este "clima extremo" é a "dura realidade das alterações climáticas e um prenúncio do futuro".
"A necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa é mais urgente do que nunca. A ação climática não é um luxo, mas uma obrigação", acrescentou Petteri Taalas.
Humanidade entrou na era da "ebulição global"
Estes dados que levaram o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a afirmar que a Humanidade tinha deixado para trás a era do aquecimento global para entrar na da "ebulição global".
Os oceanos também testemunham esta evolução preocupante, com temperaturas à superfície anormalmente elevadas desde abril e níveis sem precedentes em julho. Em 30 de julho, foi estabelecido um recorde absoluto de 20,96°C e, no conjunto do mês, a temperatura à superfície foi 0,51°C superior à média (1991-2020).
"Acabámos de assistir a novos recordes de temperaturas globais do ar e à superfície dos oceanos em julho. Estes recordes têm consequências desastrosas para as pessoas e para o planeta, que está exposto a fenómenos extremos mais frequentes e mais intensos", sublinhou a diretora-adjunta do Serviço Europeu de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus, Samantha Burgess.
Os sinais do aquecimento global provocado pelas atividades humanas - a começar pela utilização de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás) - surgem um pouco por todo o mundo: na Grécia, parcialmente devastada pelas chamas, bem como no Canadá, que também sofreu terríveis inundações; visível no calor avassalador no sul da Europa, no norte de África, no sul dos Estados Unidos e numa parte da China, que pouco depois sofreu chuvas torrenciais.
O Copernicus informou também que a massa de gelo da Antártida atingiu a extensão mais baixa para um mês de julho desde o início das observações por satélite, 15% abaixo da média para o mês.
Samantha Burgess salientou ainda que "2023 é atualmente o terceiro ano mais quente, com 0,43°C acima da média recente" e "uma temperatura média global em julho 1,5°C acima dos níveis pré-industriais".
O valor de 1,5°C é altamente simbólico, pois é o limite mais ambicioso estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015 para limitar o aquecimento global. No entanto, o limite referido neste acordo internacional refere-se a médias de muitos anos e não apenas a um único mês.
"Mesmo que tudo isto seja apenas temporário, mostra a urgência de fazer esforços ambiciosos para reduzir as emissões globais de gases com efeito de estufa, a principal causa destes registos", concluiu Samantha Burgess.
O ano de 2023 pode não ter terminado de bater recordes. "Esperamos um final de ano relativamente quente em 2023 devido ao desenvolvimento do fenómeno El Nino", salientou o Copernicus. Este fenómeno climático cíclico sobre o Pacífico é sinónimo de um aquecimento global adicional.