Alegações de que portugueses estariam a ser alvo de agressões e responsabilizados pelos casos de Covid-19 em Timor-Leste serão forma de pressão para repatriamento destes cidadãos.
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Os professores portugueses a dar aulas em Timor-Leste estão a ser transferidos da cidade de Baucau para a capital, Díli, de onde esperam ser repatriados. Estes cidadãos queixam-se de que os estrangeiros estão a ser olhados com desconfiança no país, desde que começou o surto de Covid-19, sendo encarados como portadores do novo coronavírus.
Recentemente foram noticiados casos de intimidação e agressões físicas a estrangeiros que estariam, alegadamente, relacionados com o aparecimento dos primeiros casos de Covid-19 em Timor-Leste.
Pedro Brinca, português a viver em Timor-Leste e antigo colaborador da TSF, confirma que tem existido no país "uma tendência, desde o início, de considerar que [a Covid-19] é uma doença dos estrangeiros".
Ouvido pela TSF, Pedro Brinca adianta que se registou, de facto, um episódio de agressão a uma portuguesa em Bacau, mas esclarece que o mesmo aconteceu há um mês e que ter-se-á tratado de um caso pontual.
"Trata-se de um episódio já antigo, que aconteceu quando os professores aqui chegaram para este ano letivo", conta o português. "Este episódio foi agora trazido à tona, quase um mês depois de ter acontecido, como forma de pressão dos professores, que querem ser repatriados."
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O embaixador português em Díli, José Pedro Machado Vieira, desmente, em declarações à agência Lusa, que tenham existido agressões a cidadãos portugueses no país.
"Não há registo nenhum de agressões físicas a estrangeiros, muito menos a portugueses, relacionadas com a Covid-19, ou outra situação", afirmou José Pedro Machado Vieira, acrescentando que as autoridades timorenses estão a acompanhar "de perto" a situação.
"Fui informado pelas autoridades timorenses que estão atentas à questão e que ficaram alerta pelas notícias que foram divulgadas em Portugal e garantiram que vão acompanhar de muito perto a situação e envidar esforços para garantir a segurança de estrangeiro e da nossa comunidade", salientou.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros timorense afirmou que as alegações divulgadas são "alarmistas e sem fundamento".
"Nunca existiu esse tipo de ódio contra ninguém, muito menos os portugueses, que são muito respeitados e acolhidos com um sentimento emocional por Timor", disse Dionísio Babo.
Estado de emergência em Timor
O Governo e o Presidente timorenses estiveram reunidos para decidir a declaração do estado de emergência, que se espera que aconteça em breve.
Embora já se verifique o encerramento de algumas lojas e serviços no país, Pedro Brinca teme que as medidas cheguem tarde demais para conter a propagação do vírus
Algumas lojas já começaram a fechar, mas Pedro Brinca receia que as medidas cheguem tarde demais para conter a propagação do coronavírus.
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"O Governo teve tempo para se preparar melhor e não aproveitou. Por exemplo, em Timor não é possível fazer testes ao coronavírus. Por isso, sempre que há um caso suspeito, a amostra é enviada para fora e depois tem de se esperar pelo resultado, o que, certamente, impede um controlo muito mais eficaz e rigoroso da propagação da doença", aponta o português.
Pedro Brinca acredita, contudo, que o sistema de saúde timorense poderá responder a este surto. O problema será conter a população em isolamento.
"Temo que possa ser complicado pela falta de cuidado das pessoas, não pelo sistema de saúde. Será muito difícil conseguir que as pessoas fiquem em isolamento. Aqui, cada agregado familiar tem, em média 15 pessoas - e essas pessoas passam muito pouco tempo dentro da porta de casa, passam mais tempo cá fora."
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