"Putin é o anti-Gorbachev." Santos Silva sublinha "determinação" do ex-líder da União Soviética
O presidente da Assembleia da República destaca que Gorbachev descongelou a União Soviética, um gesto "absolutamente essencial para que a Europa pudesse ser reunificada em paz e em democracia".
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Augusto Santos Silva salientou, esta quarta-feira, em declarações à TSF, o papel decisivo de Gorbachev nas mudanças da União Soviética.
"Uma pessoa formada no regime, que compreende que esse regime se tornou insustentável e procura salvá-lo, reformando-o. Foi esse o seu primeiro objetivo. O nosso saudoso Vicente Jorge Silva usou uma forma que me parece acertadíssima quando disse que Gorbachev tinha descongelado a história. Foi isso que Gorbachev fez, descongelou a União Soviética e ao fazer isso precipitou, neste caso, involuntariamente, o fim do pacto de Varsóvia, da própria União Soviética, mas foi nesse seu gesto absolutamente essencial para que a Europa pudesse ser reunificada em paz e em democracia", afirmou o presidente da Assembleia da República.
Santos Silva sublinha a "determinação e coragem" de Gorbachev em abrir um caminho que, agora, parece estar a ser reescrito em Moscovo.
"Num certo sentido, Putin é o anti-Gorbachev. Putin é aquele que procura restaurar uma ordem imperial perdida, na minha opinião perdida para sempre e ainda bem que perdida. Nesse sentido, Putin, de alguma forma, tenta recongelar uma ordem de grandes potências e uma ordem de domínio imperial, que é em tudo contrário ao que o direito internacional e a consciência democrática defendem", considerou.
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O presidente da Assembleia da República acrescentou ainda: "Não era fácil para uma pessoa formada no universo comunista empreender o processo de transformação, que ele entendeu bem que era absolutamente essencial fazer-se. Ele foi aquele que mais bem percebeu que o regime soviético tinha chegado a um ponto de insustentabilidade, de fingimento, tinha-se transformado numa ficção em que nenhum ato correspondia às palavras, e não apenas constatou isso como retirou daí as consequências."
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O ex-líder da União Soviética Mikhail Gorbachev morreu na terça-feira aos 91 anos, adiantaram as agências de notícias russas Tass, RIA Novosti e Interfax, que citaram o Hospital Clínico Central de Moscovo.
O gabinete de Gorbachev havia dito que o ex-chefe de Estado estava em tratamento naquele hospital.
Segundo as informações iniciais, Mikhail Gorbachev será enterrado no cemitério Novodevichy, em Moscovo, onde se encontram os restos mortais de figuras importantes da história russa, assim como o túmulo da sua esposa, Raísa.
O último presidente da União Soviética vivia longe dos holofotes dos media há anos, devido a problemas de saúde
Como último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev travou uma batalha perdida para salvar um império fragilizado, mas produziu reformas extraordinárias que levaram ao fim da Guerra Fria.
O antigo secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), entre 1985 e 1991, desencadeou uma série de mudança que resultaram no colapso do Estado soviético autoritário, na libertação das nações do Leste Europeu do domínio russo e no fim de décadas de confronto nuclear Leste-Oeste.
Gorbachev ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1990 pelo seu papel no fim da Guerra Fria e passou os seus últimos anos a colecionar elogios e honras em todo o mundo, contrariando a visão da Rússia, onde era - e é - desprezado.