Sérgio Moro ficará para a História como o juiz que decretou a prisão de Lula da Silva e que divulgou uma das mais controversas escutas entre o ex-Presidente e Dilma Roussef. É o novo trunfo de Bolsonaro, que o quer no Governo ou no Supremo. Moro não parece difícil de convencer.
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Sérgio Moro já admitiu que não descarta a possibilidade de aceitar o convite de Jair Bolsonaro para integrar o Ministério da Justiça e que aceitará, com gosto, a sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal. A resposta ao desafio lançado pelo novo Presidente do Brasil, numa das primeiras entrevistas a um órgão de comunicação social depois da eleição, foi divulgada numa notícia da Globo.
Em entrevista à TV Record, Bolsonaro afirmou, esta segunda-feira, que irá convidar o juiz Moro para ocupar um lugar no Supremo Tribunal ou no Ministério da Justiça brasileiro.
"Se tivesse falado isso lá atrás, soaria oportunista. Pretendo, sim, [convidar Moro] não só para o Supremo, como quem sabe até para o Ministério da Justiça. Pretendo conversar com ele, saber se há interesse e, se houver interesse da parte dele, com toda certeza será uma pessoa de extrema importância num governo como o nosso", revelou Bolsonaro.
Sérgio Moro considera que, ao integrar a equipa do presidente eleito, poderá ajudar a afastar o medo de que venha a acontecer uma rutura do Estado Democrático e de Direito no Brasil.
Durante a campanha para as eleições presidenciais brasileiras, o juiz não declarou o apoio público ao candidato da extrema-direita, mas declarou que seria "inaceitável" se o Partido dos Trabalhadores (PT) voltasse ao poder, depois de ter sido desmontado o esquema de corrupção na operação Lava Jato (no âmbito da qual, o antigo presidente brasileiro e ex-líder do PT, Lula da Silva, foi condenado a 12 anos de prisão).
Sérgio Moro terá também elogiado a promessa de Bolsonaro de "lotear" os ministérios e a atuação do agora futuro ministro da Casa Civil, na tramitação das novas medidas anticorrupção, que manteve grande parte do projeto original (incluindo a possibilidade de juízes e membros do Ministério Público serem julgado por crimes de abuso de poder), apesar das pressões parlamentares.
Quem é Sérgio Moro?
O juiz que saltou para a ribalta com a Operação Lava Jato tem 46 anos. Nasceu no Estado brasileiro do Paraná, filho de uma casal de professores. É casado com uma advogada (que também foi notícia esta segunda-feira, por ter festejado a eleição de Bolsonaro) e tem dois filhos.
Licenciado em Direito na Universidade Estadual de Maringá, passou pela Harvard Law School, nos Estados Unidos da América, e concluiu o mestrado e o doutoramento na Universidade Federal do Paraná, onde também foi professor.
É juiz federal de Curitiba desde 2003, especializado em casos de lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro.
Os casos em que participou deram-lhe um estatuto de especialista no combate à corrupção no país. Esteve à frente de casos como a Operação Banestado (relativa a evasão de milhares de milhões do Banco do Estado do Paraná, nos anos 1990) e a Operação Farol da Colina (outro caso de lavagem de dinheiro).
Mas foi com a ultra polémica Operação Lava Jato, a investigação a um esquema de corrupção - da qual resultou mais de uma centena de detenções e que culminou com a condenação a 12 anos de prisão do antigo Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva -, que Sérgio Moro se tornou internacionalmente reconhecido.
As ações do juiz foram postas em causa, após, no âmbito da Lava Jato, ter divulgado conversas pessoais de Lula da Silva com a então presidente brasileira, Dilma Roussef (quem esquece o famoso «tchau, querida!»?) - uma ação considerada irregular na Justiça.
Sérgio Moro foi também criticado por ter determinado que, coercivamente, Lula fosse levado para depor na sede da Polícia Federal - tendo sido divulgadas as imagens de Lula algemado e levado pela polícia -, uma medida que só deve ser decretada quando o suspeito em causa não aparece de livre vontade para prestar declarações, o que não correspondia ao caso.
É, por isso, acusado por muitos de fazer uma "justiça seletiva". É um trunfo que Bolsonaro exibe agora.