Os dois candidatos às eleições presidenciais Emmanuel Macron e Marine Le Pen estiveram frente a frente durante cerca de três horas. Levantaram questões sobre a Rússia, a economia, os preços da energia, as reformas das pensões, a ecologia ou mesmo a Europa, quatro dias antes das eleições presidenciais. Quem ganhou, quem perdeu. Esta é a questão que muitos eleitores se colocam.
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"Ninguém ganhou", reagem os primeiros analistas. Outros dizem que "ele ganhou no fundo e na competência, e ela na forma e na cumplicidade". Emmanuel Macron pareceu, por vezes, distante, mesmo quando era atacado por Marine Le Pen. A candidata não respondeu a muitos ataques. Três horas de um debate sério, onde pareceu prevalecer um empate entre os dois.
Poder de compra
Marine Le Pen prometeu, caso seja eleita, "fazer do poder de compra a prioridade do mandato de cinco anos" e "devolver o dinheiro aos franceses", repreendendo Emmanuel Macron por não viver na "vida real".
Por sua vez, Macron afirmou que o "escudo" que o próprio colocou para limitar a subida dos preços da energia foi mais eficaz e garantiu que a redução do desemprego era a melhor maneira de aumentar o poder da economia.
Os dois candidatos agarraram-se às respetivas propostas de incentivos para aumentar de salários, cada um acusando o outro de fazer as pessoas acreditarem que os aumentos vão ser "automáticos".
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"Não vai fazer os salários, Sra. Le Pen". "Assim como você não vai criar bonificações, Sr. Macron", responderam os dois candidatos, quanto ao tema poder de compra.
A líder da União Nacional defendeu a proposta de congelar as "contribuições patronais". "Certamente é um deficit" para o Estado, mas "não é uma despesa direta", assegurou a Le Pen. Por sua vez, Macron voltou ao sistema de bonificação pago pelas empresas, isentas de impostos até 6000 euros.
A faltarem quatro dias para as eleições, os dois candidatos defenderam visões diferentes para proteger o poder de compra. Quanto à energia, Emmanuel Macron defende congelar os preços atuais, Marine Le Pen propõe baixar o preço do IVA.
Política internacional
O Presidente cessante Emmanuel Macron acusou Marine Le Pen de depender do poder russo por causa de empréstimo a um banco russo, adquirido pelo seu partido, a antiga Frente Nacional, agora União Nacional. "A senhora depende do poder russo, depende do Sr. Putin. Fez um empréstimo de um banco russo", disse Macron, questionado sobre o conflito ucraniano. "Não fala com outros líderes, fala com o seu banqueiro quando fala sobre a Rússia, esse é o problema", apontou.
"Está errado", respondeu Marine Le Pen. "Somos um partido pobre, não é uma vergonha", disse, acusando Emmanuel Macron, então ministro da Economia e das Finanças em Bercy, de ter impedido o partido União Nacional de contrair um empréstimo na França.
Questionada sobre a guerra desencadeada na Ucrânia pela Rússia, Marine Le Pen afirmou a sua "absoluta solidariedade e compaixão com o povo ucraniano" e afirmou estar a favor da ajuda "financeira, material e de defesa" à Ucrânia, reiterando a oposição às sanções contra o petróleo e gás russos. "Eu apoio uma Ucrânia livre que não esteja sujeita aos Estados Unidos, à União Europeia ou à Rússia, essa é a minha posição", disse.
União Europeia
Os dois candidatos discutiram sobre os temas europeus, com o Presidente cessante a acusar a adversária de "mentir sobre os bens", e Le Pen a defende que "nunca tinha visto os líderes franceses defenderem os interesses do povo francês" na União Europeia.
"A Europa não é tudo ou nada, não é 'pegamos tudo e não dizemos nada ou não levamos nada'", começou Le Pen, afirmando "querer ficar na União Europeia", mas "modificá-la profundamente para fazer uma 'aliança europeia de nações'".
"Há toda uma série de políticas da União Europeia com as quais discordo", prosseguiu Marine Le Pen, citando "a multiplicação de acordos de livre comércio onde o 'Vendemos carros alemães, sacrificando criadores à concorrência de frangos do Brasil ou carne bovina do Canadá', em referência à proposta de acordo de livre comércio com o mercado americano.
"Qual galinha do Brasil?", perguntou Macron, lembrando que se "opôs" ao acordo da UE com a Mercosul porque "quando pedimos coisas aos nossos agricultores, pedimos a mesma coisa ao contrário".
"O que está a descrever parece uma banda à parte", respondeu Macron, acusando-a de "mentir sobre os produtos". "A Europa é uma copropriedade, não podemos decidir sozinhos à porta fechada."
"Está a propor uma aliança com a Rússia, como está ainda no seu programa, é incrível", repetiu Emmanuel Macron.