"Risco nunca foi tão grande" para Putin. Rússia enfrentará guerra civil se Prigozhin passar "mensagem"
O diretor do Observatório das Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa faz uma análise à rebelião na Rússia, que considera "uma vantagem óbvia para os ucranianos".
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Nunca Vladimir Putin enfrentou "um risco tão grande" como até agora, considera o diretor do Observatório das Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa. Em declarações à TSF, Luís Tomé admite que a rebelião pode acabar em confrontos entre as forças militares russas e combatentes do grupo Wagner.
Devido à disparidade de forças, o Presidente russo terá a maior vantagem, mas a situação pode alterar-se se "a mensagem de traição" de Yevgeny Prigozhin passar para a população, considera o especialista em Relações Internacionais.
"Durante muito tempo não antecipávamos a possibilidade de poder haver uma divisão no regime, sobretudo porque não parecia haver ninguém que pudesse enfrentar Putin. E agora temos esse alguém", nota Luís Tomé, referindo-se ao líder do grupo Wagner que já garantiu que os seus combatentes "não se renderão".
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Se considerarmos o "apenas o comparativo de forças", Prigozhin "à partida não tem hipótese", mas se for "convincente com a sua máquina de propaganda, obviamente podemos descambar verdadeiramente numa situação de guerra civil" na Rússia.
"O risco para o regime nunca foi tão grande e a possibilidade de o país entrar, de facto, numa guerra civil existe", considera.
Yevgeny Prigozhin "não está apenas a atacar a liderança militar, está está a atacar o Presidente Putin e a forma como Putin justificou a invasão na Ucrânia", explica. E mesmo que não seja bem-sucedido o regime fica "abalado".
As divisões na Rússia entre militares e o grupo Wagner são "uma vantagem óbvia para os ucranianos", defende Luís Tomé, pelo que o mais provável é que a Ucrânia tente capitalizar o conflito interno russo para intensificar a contraofensiva militar iniciada nos últimos dias.
"Neste momento, o comando ucraniano está a rever as suas operações, que aparentemente estavam numa espécie de pausa de contraofensiva, porque o contexto de dúvidas e tenções (...) é sempre uma vantagem para o adversário."
"Acredito que nos próximos dias e se vai intensificar a contraofensiva ucraniana, tirando partido desta situação, sobretudo se se prolongar no tempo a indefinição sobre o desfecho do golpe do grupo Wagner", aponta.