O deputado do PSD considerou que Recep Tayyip Erdogan "radicalizou muito o discurso".
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O deputado do PSD André Coelho Lima, observador das eleições na Turquia, afirmou que a segunda volta deste domingo, que deu uma nova vitória ao Presidente Erdogan, decorreu sob uma "tensão muito significativa".
"Devo dizer que isso me surpreendeu bastante. Uma tensão muito superior. Quando na primeira volta tínhamos sondagens a dar ao candidato da oposição, Kemal Kilicdaroglu, aparentemente uma vitória, a verdade é que aqui ninguém acreditava nessas sondagens. Portanto, havia menos tensão", disse à Lusa André Coelho Lima, que acompanhou as eleições integrado na delegação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Segundo o parlamentar português, nesta segunda volta das presidenciais verificou-se uma "tensão muito significativa" que teve "ocasião de experienciar" no terreno ao longo do dia de votação.
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André Coelho Lima considerou que Recep Tayyip Erdogan "radicalizou muito o discurso, particularmente nas últimas duas semanas", entre a primeira e a segunda volta das eleições.
"Um discurso contra o ocidente, de apologia nacionalista e dos valores religiosos muçulmanos contra os ocidentais, e terá tido 52% [dos votos hoje], quando as vitórias anteriores foram por valores muito superiores", referiu o observador português.
Isso significa que as "duas Turquias que estão culturalmente em confronto estão também agora eleitoralmente em confronto", considerou André Coelho Lima, para quem "nunca houve uma contestação tão elevada e nunca houve uma divisão tão acentuada, particularmente, numa altura em que é feita essa radicalização do discurso".
Depois de salientar que "são os turcos que têm de definir o futuro" do país, o deputado do PSD sublinhou que os problemas da Turquia "não estão no momento eleitoral, na contagem dos votos e da fidedignidade desses votos", mas sim nos "condicionamentos prévios" às eleições.
"Estão no controlo da comunicação social, no controlo do sistema judicial, na circunstância de um candidato aparecer horas a fio na televisão e o outro quase nunca aparecer, está em diferentes formas de condicionamento anteriores ao momento eleitoral propriamente dito", salientou.
Perante os resultados anunciados, mas ainda não oficiais, André Coelho Lima considerou que "não há uma viragem de uma Turquia mais fechada e conservadora para uma Turquia mais aberta e liberal".
"Penso que isso não haverá, pelo menos para já. Mas há claramente uma mudança nesse sentido, que não é negligenciável e deve ser vista como uma mensagem positiva", sublinhou o observador.
As assembleias de voto encerraram às 17:00 locais, menos duas horas em Lisboa. A oposição turca denunciou hoje irregularidades na segunda volta das eleições presidenciais, como ataques físicos contra observadores eleitorais na região Sudoeste e votos falsos.
A Turquia tem cerca de 85 milhões de habitantes e mais de 61 milhões de eleitores inscritos num processo em que o voto é obrigatório.