Tensão em Paris. Coletes amarelos atiram pedras, polícia responde com gás lacrimogéneo
"Coletes amarelos" ignoraram os apelos do Governo para o alerta terrorista em vigor e saem à rua em França pelo quinto sábado consecutivo para exigir melhores condições de vida.
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As primeiras tensões entre "coletes amarelos" e a polícia surgiram esta tarde nos Campos Elísios, único ponto sensível observado em Paris, constatou a agência AFP, numa altura em que números oficiais revelam uma menor mobilização dos manifestantes.
As contendas surgiram entre a polícia e manifestantes reunidos perto da Avenida dos Campos Elísios, que se tornou um epicentro de mobilização de 'coletes amarelos' desde 17 de novembro, num movimento inédito, lançado nas redes sociais contra o aumento de impostos.
As forças de segurança, cercadas, assobiadas e às vezes apedrejadas, responderam com tiros de balas de defesa e granadas de gás lacrimogéneo para repelir "coletes amarelos".
The moment a #YellowVest protester gets shot right in his face with a rubber bullet, making him bleed heavily. #Paris #PoliceViolence #GiletsJaunes pic.twitter.com/T6LdD8Nvw4
- redfish (@redfishstream) December 8, 2018
Garrafas e pedras da calçada foram atiradas contra as forças de segurança, mas a situação permaneceu contida, longe dos confrontos violentos observados nos dois últimos fins de semana na mesma área.
Paris has become more like a battlefield, President Macron has to resign before the country slides into chaos. ♂️ #YellowVest pic.twitter.com/wRwAm7qu2O
- سلطان (@hajjjess) December 8, 2018
Os "coletes amarelos" saíram à rua em França pelo quinto sábado consecutivo para exigir melhores condições de vida, apesar de medidas já anunciadas pelo Presidente, Emmanuel Macron, como o aumento do salário mínimo.
Segundo a imprensa francesa, dezenas de pessoas foram detidas por precaução, por fazerem parte de grupos suscetíveis de protagonizar atos violentos ou por estarem na posse de objetos que poderiam ser utilizados para esse fim.
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Os Campos Elísios são o epicentro da convocatória parisiense, onde as autoridades mantêm um amplo dispositivo de segurança que inclui registos de quem quer aceder à avenida.
Para enfrentar o risco de violência estão mobilizados 8.000 agentes policiais e 14 veículos blindados na capital.
Além disso, haverá revistas nas estradas, estações ferroviárias e transportes públicos com destino a Paris, e todas as linhas de metro da zona foram cortadas e as linhas de autocarro desviadas.
Tal como na semana passada, diversos monumentos, museus e mercados parisienses encerrarão as suas portas como medida de segurança, como o Arco de Triunfo, o Panteão, a Sainte-Chapelle e o Museu de Arte Moderno.
Desta vez estarão abertos outros pontos turísticos, como a Torre Eiffel, o Museu do Louvre, a Ópera da Bastilha o Museu do Homem e os grandes armazéns, como os Lafayette e os BHV.
Apelos à calma ignorados
Ignorando o apelo feito na sexta-feira por Macron, segundo quem o país "precisa de calma, de ordem, de retomar o funcionamento normal" e "o diálogo não se faz com a ocupação do espaço público e com a violência", os "coletes amarelos", mobilizados há um mês contra a política governamental para exigir mais justiça social, convocaram para este sábado novas concentrações em Paris e outras cidades francesas.
E isso, apesar dos anúncios feitos na segunda-feira pelo chefe de Estado, entre os quais se incluem um aumento de 100 euros do salário mínimo e a isenção de impostos para as reformas baixas.
"Este é precisamente o momento em que não devemos ceder, devemos continuar", instou na quinta-feira um dos iniciadores do movimento, Eric Drouet, num vídeo na rede social Facebook. "O que Macron fez na segunda-feira é um apelo para que continuemos, porque ele está a começar a ceder alguma coisa e, vindo dele, isso é invulgar", acrescentou.
No Facebook, o principal canal de mobilização do movimento, os muitos apelos para manifestações pelo quinto sábado consecutivo reúnem vários milhares de participantes.
Após quatro sábados de mobilização, três dos quais marcados por graves distúrbios e violência, que deixaram o Governo em dificuldades, alguns defendem agora um apaziguamento.
O coletivo dos "coletes amarelos livres", considerado mais moderado que o "canal histórico", apela para "uma trégua", defendendo que "chegou a altura de dialogar".
Após o atentado terrorista ocorrido na terça-feira à noite em Estrasburgo, que fez quatro mortos e 12 feridos, houve também diversos apelos para que a contestação social fosse suspensa enquanto decorria a caça ao homem que abriu fogo sobre a multidão no mercado de Natal daquela cidade e depois conseguiu fugir, após uma troca de tiros com um militar.
Mas, como o autor do ataque, Chérif Chekatt, de 29 anos, foi abatido na quinta-feira pela polícia, esse argumento para a suspensão dos protestos deixou de se aplicar.
Seis pessoas morreram e centenas ficaram feridas durante os bloqueios de ruas e manifestações realizados desde 17 de novembro, que envolveram cerca de 125.000 pessoas em todo o país e 10.000 na capital.
Segundo a Amnistia Internacional, 1.407 foram feridas durante os protestos, 46 das quais com gravidade, e 717 foram agentes da polícia, da guarda e bombeiros.
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