Sétima noite de distúrbios em França: pelo menos 72 pessoas detidas na última noite
Esta noite foi relativamente mais calma, com menos incidentes em relação aos últimos dias.
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Pelo menos 72 pessoas foram detidas na sétima noite consecutiva de distúrbios em França, que segundo o Ministério do Interior registou menos incidentes em relação aos últimos dias.
O número de detenções na noite de segunda-feira para terça-feira comunicadas pelo Governo, sem referir a gravidade dos incidentes, é inferior às 157 da noite anterior e às 400 detenções ocorridas na noite de sábado para domingo.
De acordo com os dados oficiais, durante os distúrbios que eclodiram na semana passada, foram incendiados 159 carros, 24 edifícios públicos ficaram danificados assim como quatro postos de polícia.
Nos últimos dias estiveram destacados 45 mil polícias e gendarmes em vários pontos do país mas sobretudo na região de Paris.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, recebe hoje no Palácio de Eliseu mais de 200 autarcas de localidades onde se registaram distúrbios.
Ouvido pela TSF, José Falcão, da associação SOS Racismo, sublinha que aquilo que se passa em França é a consequência da atitude de ódio que se vive nos bairros franceses e do facto de a extrema-direita estar infiltrada na polícia. Em relação aos desacatos e à destruição que se vive nas ruas das principais cidades francesas, o ativista, ainda que não defenda a atitude, considera que é uma forma de a população marginalizada ser ouvida.
"Sejamos claros, aquilo foi uma execução, não foi um erro, e é normal que as pessoas reajam conforme podem. Eu não estou a defender, porque nunca fiz isso na vida de andar a incendiar carros, mas a verdade é que as pessoas fazem aquilo que podem, e se é a incendiar carros que as pessoas são ouvidas, quem é que tem direito a atirar uma pedra que seja quando essas pessoas que andam a incendiar carros são aquelas que, de manhã, se levantam às 5h00 e vão trabalhar para fazer os trabalhos que nós não queremos fazer", afirma.
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O dirigente da SOS Racismo acrescenta ainda que esta revolta que se vive nas ruas francesas é resultado da raiva contra um racismo sistémico da sociedade francesa.
"É a raiva, eles estão a lutar por aquilo que acham que é o racismo sistémico da sociedade francesa e é isso que está em causa. Tendo em conta que ninguém faz absolutamente nada ou fazem muito pouco, o que acontece com a comunidade afrodescendente ou do Magrebe faz com que as pessoas, de uma maneira ou de outra, expludam, como tem acontecido com alguma frequência", acrescenta.
De acordo com a associação patronal francesa Medef, os distúrbios já provocaram danos avaliados em cerca de mil milhões de euros: 200 estabelecimentos comerciais foram totalmente pilhados e 300 agências bancárias ficaram destruídas, assim como 250 quiosques de rua.
A Medef não incluiu ainda a previsão do eventual impacto dos incidentes na imagem da França relativamente ao turismo.
Os distúrbios foram desencadeados no passado dia 27 de junho quando um jovem de 17 anos foi alvejado mortalmente por um polícia num posto de controlo de trânsito.
O jovem, que não tinha carta de condução, foi atingido quando tentava evitar o controlo policial em Nanterre, arredores de Paris.
Na segunda-feira, Emmanuel Macron visitou vários quartéis de bombeiros de Paris que estão nas zonas mais próximo dos locais onde ocorrem tumultos tendo admitido a possibilidade de "sancionar economicamente" dos menores de idades responsáveis por atos de violência.
A primeira-ministra, Élisabeth Borne, recebe hoje os líderes dos grupos parlamentares da maioria depois de se ter reunido na segunda-feira com os dirigentes dos partidos da oposição.