"Sofisticação tremenda." Hamas quis "dar uma prova de vida em grande escala" com ataque a Israel
O diretor adjunto do Diário de Notícias explicou na TSF o que poderá ter corrido mal para que esta operação não tenha sido detetada atempadamente pelas autoridades israelitas.
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O diretor adjunto do Diário de Notícias, Leonídio Paulo Ferreira, explicou na TSF o que terá levado as forças palestinianas a lançarem esta operação.
"O Hamas quis dar uma prova de vida em grande escala. Há uma luta pela liderança palestiniana, uma luta pela liderança da causa nacional palestiniana e claramente o Hamas quer ser o elemento que vai ganhar essa luta. E esta operação, que inclui meios até agora inéditos, numa escala de organização e sofisticação tremenda, que consegue colocar homens armados em Israel a combater contra militares israelitas, entrar em cidades israelitas a atacar civis, a tomar reféns, tanto civis como militares, é realmente algo com uma dimensão enorme. O Hamas obviamente não tem ilusões de que pode ganhar uma guerra convencional a Israel. As operações de hoje acabarão de certeza com a aniquilação destas forças que entraram em Israel. A questão é que o Hamas mostrou que consegue abalar a confiança israelita de que é capaz de proteger a sua população mesmo nas zonas à volta de Gaza", esclareceu à TSF Leonídio Paulo Ferreira.
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Israel é um dos países mais avançados do mundo a nível de forças armadas e de serviços de segurança, mas Leonídio Paulo Ferreira adianta o que poderá ter corrido mal para que esta operação não tenha sido detetada atempadamente pelas autoridades israelitas.
"Porque é que não houve fugas de informação para Israel? Israel obviamente tem informadores em Gaza e tem forma eletrónica de procurar informações, mas pelos vistos, desta vez, isso não foi suficiente para detetar esta operação, o que é surpreendente tendo em conta a dimensão da operação. Há aqui um outro elemento também secundário, mas que pode ter alguma relevância: os problemas desde o início do ano na Cisjordânia, onde têm existido também combates entre grupos palestinianos e Israel, terão levado a uma espécie de deslocação da atenção dos militares israelitas para a Cisjordânia em relação à Faixa de Gaza e, portanto, Israel pode ter aparecido apanhado aqui um pouco menos preparado do que é habitual", esclareceu o diretor adjunto do Diário de Notícias.
O diretor adjunto do Diário de Notícias não tem dúvidas de que Israel vai vencer esta guerra. No entanto, acredita que as autoridades israelitas terão de ter alguma contenção na resposta a esta ofensiva.
"Israel está a negociar uma normalização com vários países árabes e ambiciona, inclusive, mais alguns, como a Arábia Saudita. Portanto está também sob vigilância a forma como reage, porque as lideranças dos países árabes também tem uma opinião pública que os pressiona e essa opinião pública é pró-palestiniana mas, mais complicado ainda no meu ponto de vista, é Israel ter de mostrar ao Hamas que tem força e que consegue fazer danos muito graves ao Hamas e puni-los por aquilo que fez, mas não só não pode fazer uma mortandade da população civil em Gaza - e estamos a falar de uma das zonas mais densamente povoadas do mundo - como Israel num determinado momento vai ter que negociar com alguém e provavelmente será com o Hamas. Para quê? Se se confirmarem os relatos de que há israelitas sequestrados, israelitas que inclusive podem ter sido já levados para a Faixa de Gaza, há um momento aqui em que provavelmente vão ter que haver negociações", acrescentou.
O ataque surpresa lançado este sábado pelo Hamas contra o território israelita, numa operação com o nome "Tempestade al-Aqsa", envolveu o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.
Em resposta, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação que batizou como "Espadas de Ferro".
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007.