Telemóveis do primeiro-ministro e ministra da Defesa espanhóis alvos do programa Pegasus
Dispositivo de Pedro Sánchez foi acedido por duas vezes e o de Robles por uma, sendo que houve sempre descarregamento de informação: no caso do primeiro-ministro, são mais de 2,5 gigas de informação.
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Os telefones móveis do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez e da ministra da Defesa, Margarita Robles foram alvo de escutas "ilícitas e externas" através do programa Pegasus, indica um relatório oficial do Centro de Criptologia Nacional (CNC). As escutas aos dois telefones foram anunciadas pela porta-voz do governo espanhol, Isabel Rodriguez e pelo ministro da Presidência do Governo, Félix Bolaños, numa conferência de imprensa que decorreu esta segunda-feira no Palácio de la Moncloa, Madrid.
Bolaños explicou que de acordo com os relatórios do organismo cibersegurança espanhol (CNC) verificaram-se duas intrusões no telemóvel de Pedro Sanchéz em maio de 2021 e uma escuta ao telefone móvel de Robles em junho do ano passado O documento refere que primeiro foram retirados 2,6 gigas de informação e depois 130 megas do telemóvel do chefe do Governo, enquanto do dispositivo da ministra saíram nove megas.
A "intervenção ilegal" foi confirmada na sequência de uma investigação que ainda está em curso sobre as comunicações de todos os membros do governo espanhol.
"Trata-se de factos confirmados e de uma enorme gravidade que confirmam que se verificaram intrusões às instituições estatais e que são ilegais", acrescentou Bolaños.
"Estamos perante intervenções ilícitas e externas", sublinhou.
O uso do programa informático de fabrico israelita Pegasus foi inicialmente denunciado por membros da oposição e separatistas da Catalunha.
Hoje, os deputados catalães da CUP (Candidatura de Unidade Popular) Carlos Riera, Albert Botran e David Fernàndez apresentaram uma queixa a um tribunal de Barcelona contra alegados atos de espionagem através do programa informático Pegasus.
De acordo com um comunicado da CUP, a queixa em nome dos três deputados refere que se trata de um delito contra a intimidade com intuito de "revelação de segredos".
Da mesma forma, a organização separatista catalã Ómnium Cultural indicou hoje que já apresentou uma queixa sobre eventuais atos de espionagem a membros do grupo.
Por outro lado, o Governo da Região Autónoma espanhola da Catalunha (Generalitat) anunciou que vai inspecionar periodicamente os telefones móveis de 500 responsáveis de cargos oficiais devido às ameaças levadas a cabo através de programas de espionagem como o Pegasus.
Anteriormente, foram denunciadas intrusões a dezenas de independentistas catalães, entre os quais o presidente da Generalitat, Pere Aragonès.
Puigdemont solidário, mas crítico
Já esta manhã, o ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, solidarizou-se com Sánchez e Robles, a quem se refere como "vítimas" apesar de lhes apontar que "não fizeram nada" desde as denúncias dos independentistas.
"A violação da intimidade de Pedro Sánchez e da ministra Robles é um crime gravíssimo que ameaça a democracia. A minha solidariedade para com eles, como vítimas, e a minha máxima exigência, como responsáveis por não terem feito nada desde o surgimento do CatalanGate", escreveu no Twitter.
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Puigdemont lamenta ainda que a Moncloa tenha esperado até deparar-se com uma infeção pelo Pegasus para "considerar que é um assunto de extrema gravidade e investigá-lo".
O programa Pegasus, fabricado por uma empresa privada israelita só pode ser vendido e usado por governos e tem estado no centro de vários escândalos de espionagem contra políticos, jornalistas e defensores de direitos humanos em todo o mundo, nomeadamente Espanha, Marrocos e França.
O programa, que só pode ser vendido após autorização do governo de Israel, já foi proibido nos Estados Unidos.