Em Portugal está a ser alvo de ensaios clínicos, nos EUA já é autorizado. O que se sabe sobre o tratamento para a Covid-19com plasma convalescente?
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no último domingo a autorização do tratamento da Covid-19 com plasma sanguíneo de doentes recuperados, já amplamente utilizado nos EUA e vários outros países (em Portugal ainda está em fase de testes.) Em que consiste este método terapêutico?
O chamado plasma convalescente, retirado de pacientes que recuperaram depois de terem sido infetados pelo SARS-Cov-2, é rico em anticorpos, pelo que pode trazer benefícios para aqueles que ainda estão a lutar contra a doença.
Contudo, até agora as provas não têm sido conclusivas. Os investigadores não sabem dizer com absoluta certeza se o tratamento funciona, quando administrá-lo e qual dose necessária.
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O organismo das pessoas infetadas produz anticorpos que combatem o coronavírus. Essas proteínas flutuam no plasma e podem ser retiras com uma simples doação para, posteriormente, ser injetadas no sangue de doentes.
Batizada de "imunização passiva", a ideia não é nova. Já foi testada no passado contra a difteria, em 1892, e também durante a pandemia de gripe espanhola, em 1918.
Em junho, a Clínica Mayo, com sede no Minnesota, Estados Unidos, analisou a segurança do plasma depois de uma transfusão num grupo de 20 mil pacientes com Covid-19, e encontrou taxas extremamente baixas de efeitos secundários.
"Concluímos que o uso do plasma convalescente era seguro", disse à AFP o médico Scott Wright, que conduziu a investigação, publicada na Mayo Clinic Proceedings.
Também não houve sinais de um efeito perigoso designado "potencialização dependente de anticorpos", que pode ocorrer quando anticorpos que não são adequados para conter um vírus acabam por conduzir a que mais células se infetem.
Contudo, os investigadores são categóricos: é preciso mais testes para se comparar o uso do plasma com outros tratamentos possíveis para a Covid-19.
Outro estudo da Clínica Mayo, mas que não se tratou de um teste clínico, nem foi ainda revisto pela comunidade científica, sugere que o plasma ajudou a reduzir a taxa de letalidade entre os doentes hospitalizados, quando administrado de forma precoce e no momento em que os níveis de anticorpos eram altos.
Dos 35 mil doentes com Covid-19 que participaram neste estudo, aqueles que receberam transfusões nos três dias seguintes ao diagnóstico tiveram taxa de mortalidade de 8,7% na semana seguinte, enquanto os que receberam plasma depois de quatro ou mais dias tiveram uma taxa de mortalidade de 11,9%. Mas a ninguém foi administrado placebo, por isso a comparação não completamente fiável.
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Já os investigadores da Universidade Johns Hopkins - centro de referência para a Covid-19 nos Estados Unidos - estão testar a utilização de plasma para imunizar pessoas saudáveis. David Sullivan, coordenador da investigação, o comparou o efeito desejado ao de uma "vacina imediata".
Se o plasma se revelar realmente eficaz no tratamento de doentes com Covid-19, terá a vantagem de ser facilmente usado para produzir medicamentos em massa. Por outro lado, como o vírus está sempre em mutação, os anticorpos produzidos em laboratório para combater uma versão anterior do vírus podem não ser tão eficazes quanto o plasma recém-recolhido.
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