Dois Presidentes, o mesmo hábito de dar voz ao passarinho azul. @realDonaldTrump e @jairbolsonaro encontram-se esta terça-feira cara a cara, longe dos teclados.
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Mal chegou a Washignton, nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro anunciou-o ao mundo com um tweet. Ou melhor, com três. O Presidente do Brasil não se contenta com 280 carateres, uma das (muitas) coisas que tem em comum com o homem que esta terça-feira vai visitar.
Se o Twitter fosse barómetro de popularidade, Donald Trump batia o homólogo brasileiro aos pontos. Mas também anda nisto de liderar um país há mais tempo.
Desde 2009, o Presidente dos Estados Unidos da América publicou 41 mil tweets, e angariou 59,1 milhões de seguidores. Mas só segue 45 pessoas, a maioria familiares (e a Fox). Bolsonaro escreveu 6.312 tweets desde 2010, é seguido por 3,76 milhões de pessoas e segue 324, incluindo uma conta falsa de Trump.
No entanto, a taxa média de interação por tweet do Presidente do Brasil com seus seguidores é de 1,87%, enquanto a do homólogo norte-americano não chega aos 0,26%, segundo dados da ferramenta de análise de redes sociais CrowdTangle.
Por ser polémico no conteúdo, agressivo na forma ou simplesmente insólito, com Donald Trump passou a ser normal noticiar o que Presidente escrevia nas redes sociais. E o mesmo parece ser regra desde que há um novo inquilino no Palácio do Planalto.
É o caso do que aconteceu no início do mês, depois de Jair Bolsonaro ter chocado o Brasil ao publicar um vídeo considerado obsceno para criticar os excessos do Carnaval.
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E depois ainda perguntou...
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Após de ter sido esfaqueado durante a campanha, Bolsonaro ganhou um novo fôlego nas redes sociais. Estava em segundo lugar nas sondagens e viu a sua popularidade escalar. Dizem muitos analistas políticos que chegar à casa dos brasileiros através do ecrã do telemóvel pode ter sido determinante para a sua eleição. Dispensou assim comícios, aparições públicas, debates, entrevistas ou conferências de imprensa, mas nunca esteve offline, nem na cama de hospital.
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O Twitter e o Facebook tornaram-se espaços para falar abertamente de crime, corrupção e valores familiares, mas também para atacar a oposição, jornalistas ou inimigos, denunciar alegadas "fake news", assinalar uma data festiva ou simplesmente dizer olá aos amigos e aliados.
Agora "Bolsonaro tem de manter o seu público aquecido com polémicas", explica Pablo Ortellado, professor de Gestão Política da Universidade de São Paulo SP, na edição brasileira do jornal El País. "Se eles estiverem frios, não fazem retweets nem dão likes, e a mensagem não se propaga. Por isso ele continua elogiando a ditadura, por exemplo, sempre polemizando. A sua estratégia de comunicação depende disso."
Donald Trump, que o ex-militar disse em 2017 encarar como "um exemplo", parece ser adepto da mesma estratégia.
No Twitter, Trump pode acusar Barack Obama de pôr escutas no seu telefone durante as eleições e dizer "ninguém respeita mais as mulheres do que eu" ou "fiz mais pelos afro-americanos do que quase todos os Presidentes" sem que ninguém o contradiga de viva voz, mas gerando milhares de respostas. Que os eleitores falem bem ou mal, nas redes sociais não importa, desde que falem.
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Trump já usou o Twitter para dizer que "a esmagadora quantidade de crimes violentos nas grandes cidades é cometida pelos negros e pelos hispânicos", mas também para dizer que os adora, enquanto come um taco.
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John McCain ocupou a Trump milhares carateres. O tweet que mais deu que falar dizia que não considerava o senador um herói de guerra "porque foi capturado" e meses depois da morte de McCain os os ataques continuam. Por outro lado, Kim Jung-un, o "Rocket Man", já não surge tanto entre as publicações causídicas do Presidente. Afinal, em 2017, Trump disse que nunca lhe chamaria "baixo e gordo" e que se estava a esforçar para ser seu amigo.
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Entre pontos de exclamação e maiúsculas, tanto Trump como Bolsonaro já usaram este meio para fazer comunicações formais e anunciar grandes decisões pela primeira vez.
São mesmo os chefes de Estado que escrevem os próprios tweets? No Planalto assegura-se que sim, na Casa Branca nem sempre. Enquanto diretor das redes sociais da Casa Branca, o ex-caddy Dan Scavino é autor de algumas publicações, em especial das mais institucionais.
Em entrevista a Anderson Cooper, Trump explicou que durante o dia muitas vezes diz à sua equipa o que devem escrever. "Mas ao fim do dia, depois das sete ou assim, faço-o sempre sozinho", contou.
Trump escreve dezenas de tweets noite dentro e talvez o adiantado da hora explique um dos seus mais famosos:
Este e outros tweets caricatos, polémicos ou perigosos de Donald Trump até já têm casa num museu criado pelo programa humorístico Daily Show, de Trevor Noah. Pode conhece-lo aqui, através de uma visita virtual.
Donald Trump e Jair Bolsonaro vão encontrar-se esta terça-feira para um almoço de trabalho e uma reunião prolongada com os ministros dos dois países. É um encontro que promete "assustar os defensores do atraso e da tirania ao redor do mundo". Pelo menos assim promete Bolsonaro, no sítio do costume.
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