A operação militar desencadeada há um mês por Kiev para retomar o controlo do leste da Ucrânia, em poder dos separatistas pró-russos, constitui um falhanço e revela a impotência das autoridades transitórias face aos rebeldes, referem especialistas.
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«A operação revelou-se ineficaz porque as forças ucranianas não estavam preparadas», considerou o especialista em assuntos militares Mykola Soungurovski, citado pela agência noticiosa AFP.
Iaroslav Gontchar, comandante adjunto do batalhão Azov, uma unidade de voluntários integrada na Guarda Nacional ucraniana, avança com diversas explicações para o fracasso: «A nível local, a traição da polícia e a oposição da população, e ainda a incompetência de quem planificou as operações».
Hoje, os separatistas armados ocuparam sem recurso à força o quartel-general da Guarda Nacional, as forças especiais do ministério do Interior de Donetsk.
A operação, desencadeada pelo exército em 13 de abril, tinha no entanto objetivos precisos: desarmar os grupos rebeldes pró-russos, libertar os edifícios ocupados (câmaras municipais, sedes das administrações regionais, esquadras da polícia e dos serviços secretos) e restabelecer a autoridade de Kiev nas regiões de Donetsk e Lugansk, próximas da fronteira russa, com cerca de sete milhões de habitantes.
Um mês depois, e segundo um balanço da ONU; 127 pessoas foram mortas nos confrontos, incluindo militares, separatistas pró-russos e civis.
Para além da anexação da Crimeia pela Rússia em março, as regiões de Donetsk e Lugansk, no Donbass, estão hoje mais distantes de Kiev que há um mês. Os pró-russos tomaram o poder na maioria das cidades e controlam uma parte considerável do território, com exceção dos postos fronteiriços e bases militares.
Em 13 de maio, as autoproclamadas "República popular de Donetsk" e a "República popular de Lugansk" organizaram um referendo sobre a sua independência e a primeira pediu a união à Rússia, um pedido por enquanto sem resposta.
Desde o início da «operação antiterrorista», as forças fiéis a Kiev mostraram não ter condições para combater os insurretos com eficácia: em alguns dias, diversos helicópteros do exército foram abatidos e blindados ligeiros e veículos pesados tomados pelos rebeldes, após terem sido travados numa cidade por uma multidão hostil.
«Não tem sentido fazer o balanço desta operação: não há qualquer resultado significativo e as forças ucranianas não têm os meios necessários para restaurar a ordem na região», afirmou em Kiev à AFP Volodymyr Fessenko, do centro de Estudos políticos Penta.
«Mas nem seria possível conservar o Donbass pela força. Apenas será possível pela negociação», acrescentou, ao sublinhar a necessidade de envolver no processo as elites locais, em particular o oligarca Rinat Akhmetov, o homem mais rico da Ucrânia e pilar económico do leste do país.
Se a operação militar não for rapidamente acompanhada por negociações, «o Donbass vai transformar-se pouco a pouco numa Transnístria», a região independentista pró-russa da Moldávia e que não é reconhecida por qualquer entidade, precisou Fessenko.