UE a negociar paz na Ucrânia "não seria visto com alguma imparcialidade pelo lado russo"
Martins da Cruz explica na TSF que o "grande envolvimento" no apoio à Ucrânia põe em causa a abertura russa ao diálogo com responsáveis europeus.
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O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz defende que a União Europeia (UE) não está em condições de negociar a paz na Ucrânia porque tal "não seria visto com alguma imparcialidade pelo lado russo". Esta terça-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também admitiu serem impossíveis a curto prazo negociações de paz para pôr fim à guerra russa contra a Ucrânia, numa entrevista divulgada pelo jornal espanhol El Pais.
Para Martins da Cruz, o "grande envolvimento em apoio à Ucrânia" por parte da UE não seria bem-visto pelos responsáveis russos, sobrando por isso outros "possíveis mediadores", que identificou em declarações à TSF: "Porventura a China, porventura o Brasil e outros países num grupo de países do chamado Global South."
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Além destes, "o único país da NATO, embora não da União Europeia, que poderia ter algumas hipóteses de mediação, como já fez parcialmente, é a Turquia", mas tal depende das eleições do próximo domingo, "para saber qual é o sistema político que fica na Turquia".
Assim, Martins da Cruz alinha três vias possíveis para a paz: o congelamento da situação, o regresso ao passado ou a retirada russa.
Na primeira via, a do congelamento, o conceito é o mesmo que já foi aplicado à guerra da Coreia "nos anos 50 do século passado, de onde nasceram a Coreia do Norte e a Coreia do Sul" e à invasão turca do Norte do Chipre, em que "a situação ficou congelada em Chipre".
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"A segunda hipótese é o chamado statu quo ante, ou seja, o regresso à situação que estava antes do conflito", sendo para isso necessário "saber se é a situação de 2014, antes da ocupação da Crimeia, ou a situação em 2022, antes da invasão do Donbass e de outras partes da Ucrânia".
A terceira via implica a "retirada total ou parcial das forças russas".
"É dentro destas três que vai ter de ser encontrada uma solução negocial", assinala o antigo chefe da diplomacia portuguesa, mas aí "a Europa tem uma palavra a dizer, até porque tem em cima da mesa o alargamento da Ucrânia".