O sociólogo português Manuel Dias Vaz defende que Macron usou a presidência da Europa como um argumento a seu favor e alerta que pode haver um voto de protesto na extrema-direita.
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A campanha para as eleições presidenciais francesas termina esta sexta-feira. Na corrida ao Eliseu estão 12 candidatos, que têm até à meia-noite para convencer os eleitores a votar. As mais recentes sondagens apontam que perto de 30% dos eleitores não vão votar no domingo. O aumento da popularidade dos candidatos de extrema-direita pode ser vista como uma sanção ao Presidente-candidato, Emmanuel Macron.
A campanha eleitoral fez-se entre personalidades em vez de ser entre projetos. "Hoje as campanhas eleitorais fazem-se, muitas vezes, unicamente entre conflitos de personalidade, não em termos de projetos e ideias. Isso também faz com que as pessoas estejam cada vez menos confiantes e a crise sanitária, na qual ainda vivemos em parte, também provocou essa desconfiança entre a maior parte da população e os governantes", aponta o sociólogo português Manuel Dias Vaz.
O Presidente candidato, Emmanuel Macron deu como garantida uma passagem direta para a segunda volta e "serviu-se - bom, outras pessoas estivessem no lugar dele faziam a mesma coisa - da presidência da Europa como um elemento da campanha para ele", explica o sociólogo.
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A França vive um momento de rutura entre os aparelhos políticos e uma parte da população. Faltou confiança ao partido socialista representado por Anne Hidalgo e ao partido de centro-direita Os Republicanos, de Valérie Pécresse.
"O problema hoje é a falta de confiança, para não dizer a total rutura entre uma parte da população e os aparelhos. Quando digo os aparelhos são os partidos políticos, mas o mesmo acontece com os sindicatos e com os corpos intermediários. Acho que há uma total desconfiança entre a população francesa, as elites e os aparelhos", lembra.
A subida da extrema-direita pode representar um voto de sanção dirigido a Emmanuel Macron. "Pode haver um voto de sanção que não é contra o Governo, mas contra o Presidente da República. Eu acho que há uma grande parte da população que está em rutura com o atual Presidente e isso pode ter a ver com o aumento exponencial da extrema-direita. Isso pode ser um drama para a França e depois para a Europa", concluiu.
A última sondagem da Ipsos aponta que 30% dos eleitores não vão votar este domingo, o que pode representar um recorde de abstenção nas eleições presidenciais em França.