Zelensky diz que destino do Donbass vai ser decidido pelo combate em Severodonetsk

Aris Messinis/AFP
Líder ucraniano adianta que os russos estão a sofrer "perdas significativas" num confronto "muito feroz" por uma "cidade fantasma".
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O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, salientou esta quarta-feira que a luta das forças ucranianas contra os russos na cidade de Severodonetsk "está a decidir o destino" do Donbass, no leste do país.
"A batalha por Severodonetsk é uma das mais difíceis desde o início da invasão russa em larga escala da Ucrânia e o destino do Donbass está a ser decidido lá", realçou o chefe de Estado ucraniano, durante o seu discurso noturno diário em vídeo dirigido à nação.
Zelensky salientou que ao 105.º dia da invasão russa da Ucrânia, a cidade de "Severodonetsk continua a ser o epicentro do confronto no Donbass".
"Estamos a defender as nossas posições, infligindo perdas significativas ao inimigo", assegurou.
"Esta é uma batalha muito feroz, muito difícil. Provavelmente uma das mais difíceis ao longo desta guerra. Estou grato a todos os que defendem este país. De muitas maneiras, o destino do nosso Donbass está a ser decidido lá", reforçou Zelensky.
O chefe de Estado ucraniano considerou ainda "absolutamente loucas" as notícias divulgadas pelos russos, de que está a ser preparado um "pseudocampeonato" com alguns clubes de futebol de todos os territórios ocupados, de regiões como Donetsk, Lugansk, Kherson, Melitopol, Crimeia e até parte da Geórgia.
"Seria um escárnio dos ocupantes para com quem sabe como era antes [a região]", atirou.
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Dez anos antes, Donetsk era uma cidade "forte, orgulhosa e desenvolvida" e, depois da chegada do Exército russo, é "uma cidade fantasma que perdeu a maioria dos seus habitantes, milhares de vidas e absolutamente todas as perspetivas", lembrou.
Volodymyr Zelensky reforçou que apenas o "regresso da Ucrânia, da bandeira e da lei ucraniana, significará uma vida normal para aqueles territórios e cidades".
As forças de Kiev têm resistido à queda de Severodonetsk, o último reduto da Ucrânia na região de Lugansk, embora o Exército russo tenha forçado as tropas ucranianas a retirarem-se para os arredores da cidade.
Moscovo parece ter tomado o controlo da cidade, mas os ucranianos estão a impedir as forças russas de avançar pelo rio até à cidade vizinha de Lysytchansk, localizada quase na fronteira administrativa com a região de Donetsk.
O Estado-Maior ucraniano também destacou a resistência "bem-sucedida" das suas tropas em Severodonetsk e nos arredores da cidade, que o presidente Volodymyr Zelensky qualificou de "heroica".
Segundo os pró-russos, as forças ucranianas já deixaram o aeroporto de Severodonetsk e refugiaram-se numa floresta próxima.
O governador da região de Lugansk, Serguei Gaidai, referiu esta quarta-feira que as forças russas controlam "em grande parte" Severodonetsk, assegurando que a zona industrial ainda está controlada pelos ucranianos e que os combates acontecem "apenas nas ruas dentro da cidade".
A cidade vizinha de Lysytchansk está totalmente sob controlo do Exército ucraniano, mas está a ser alvo de um bombardeamento "poderoso e caótico", frisou Serguei Gaidai.
Fontes russas e pró-russas dizem também que unidades do Exército ucraniano no Donbass sofreram "baixas significativas" nas suas fileiras nos últimos dias, especialmente em Sviatohirsk, na autoproclamada República Popular de Donetsk.
O Exército russo procura conquistar toda a região do Donbass, formada pelos territórios de Lugansk e Donetsk, importante região industrial e com recursos minerais, parcialmente nas mãos de separatistas pró-russos desde 2014.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de quase 15 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,9 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou na quarta-feira que 4.266 civis morreram e 5.178 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 105.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.