Morreu Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones

Artista tinha 80 anos e, no início deste mês, reconheceu que não estava em condições de participar na próxima tour da banda de rock britânica.

Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, morreu esta terça-feira aos 80 anos, revelou Bernard Doherty, agente do artista, em comunicado.

"É com imensa tristeza que anunciamos a morte do nosso amado Charlie Watts. Faleceu pacificamente num hospital de Londres, esta terça-feira de manhã, rodeado pela família. Charlie era um marido, pai e avô acarinhado e também, como membro dos Rolling Stones, um dos maiores bateristas da sua geração. Pedimos gentilmente que a privacidade da família, membros da banda e amigos próximos seja respeitada neste momento difícil", pode ler-se na nota.

No início deste mês Charlie Watts tinha sido operado de urgência devido a "um problema de saúde". Na altura, o agente revelou que o baterista ia ficar de fora da tour da banda e o próprio artista reconheceu não estar bem.

"Com os ensaios a começar dentro de algumas semanas, isto é, no mínimo, dececionante, mas também é justo afirmar que ninguém previu. Pela primeira vez o meu ritmo tem estado um pouco estranho. Tenho trabalhado duro para estar completamente bem, mas hoje devo aceitar os conselhos especialistas de que isto vai demorar mais um pouco", lamentou Charlie Watts.

A banda acabou por substituir o baterista pelo músico Steve Jordan.

Em 2004 foi diagnosticado com cancro da garganta. Submeteu-se a vários tratamentos e recuperou totalmente.

Paul McCartney, ex-membro da banda britânica The Beatles, reagiu à morte de Charlie Watts num vídeo publicado na rede social Twitter. O cantor e compositor desejou "muito amor" e "as maiores condolências" à família do baterista e à banda Rolling Stones. McCartney sabia que "ele estava doente, mas não tão doente" e descreve Watts como "um rapaz amoroso", "um homem lindo", "um baterista fantástico" e "sólido como uma rocha", destacando a tristeza com que recebeu a notícia.

Watts era conhecido como o membro mais tranquilo da banda e ajudou o grupo a alcançar o sucesso com êxitos intemporais como "Jumpin' Jack Flash" e "(I Can't Get No) Satisfaction". Em palco, a sua postura contrabalançava com a energia e carisma do vocalista Mick Jagger e dos guitarristas Keith Richards e Ronnie Wood.

Enquanto os outros membros dos Rolling Stones ficaram também conhecidos por "divórcios, vício e detenções", como refere o jornal britânico Daily Mirror, Watts vivia tranquilamente com a sua mulher, Shirley Shepherd, com quem foi casado mais de 50 anos, numa quinta na remota zona rural de Devon, no Reino Unido.

"Ao longo de cinco décadas de caos, o baterista Charlie Watts tem sido a calma no centro da tempestade dos Rolling Stones, dentro e fora de palco", escreveu o mesmo jornal em 2012.

Nos anos 80 submeteu-se a tratamentos por abuso de álcool e heroína, mas disse que conseguiu largar os vícios com sucesso.

"Foi algo muito curto para mim. Acabei por parar", contou Charlie Watts na altura.

Destruir quartos de hotel e dormir em grupo também não era para Watts.

"Nunca preenchi o estereótipo de estrela de rock. Nos anos 70, o Bill Wyman e eu decidimos deixar crescer a barba e o esforço deixou-nos exaustos", recordou, em 1994, numa entrevista à revista Rolling Stone.

Amor precoce pelo jazz

Nascido a 2 de junho de 1941, em Londres, Charles Robert Watts descobriu o jazz por volta dos dez anos, tendo como referências Jelly Roll Morton e Charlie Parker. Foi também em criança que começou a explorar a bateria. De acordo com o site oficial dos Rolling Stones, o artista chegou a transformar um velho banjo num tambor.

Como não tinha formação, aprendeu a tocar bateria a ver grandes bateristas de jazz em clubes londrinos. Depois de estudar artes encontrou emprego como designer gráfico e tocou com várias bandas de jazz à noite, antes de se juntar aos Rolling Stones em 1963.

Ao longo da sua carreira com a banda de rock, Watts continuou a alimentar o seu amor por este estilo de música como líder da banda de jazz Orquestra Charlie Watts.

Quando se falou da possibilidade de separação dos Rolling Stones, o baterista mostrou alguma indiferença.

"Dizer que este é o último espetáculo não seria um momento particularmente triste para mim, de qualquer maneira. Vou continuar como estava ontem ou hoje", disse em entrevista ao New Musical Express (NME), em 2018, quando a banda septuagenária preparava mais uma digressão.

Watts chegou mesmo a admitir abertamente, várias vezes, que pensou deixar o grupo.

"Costumava partir no final de cada digressão. Fazíamos seis meses de trabalho na América e eu dizia: 'é isto, vou para casa.' Duas semanas depois estava inquieto e a minha mulher dizia: 'por que não voltas para o trabalho? És um pesadelo'", confessou Charlie Watts.

Em 2016 foi nomeado o 12.º maior baterista de todos os tempos pela Rolling Stone. Dez anos antes, a revista Modern Drummer colocou-o no Modern Drummer Hall of Fame, ao lado de outros músicos notáveis como Ringo Starr, dos Beatles, e Keith Moon, dos The Who.

Atuou pela última vez com os Rolling Stones no concerto One World: Together At Home, em abril de 2020, onde apresentaram uma nova interpretação de "You Can't Always Get What You Want", um clássico de 1969. Na altura, Watts juntou-se à banda a partir de casa.

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