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Os trabalhos de projeção que têm vindo a ser desenvolvidos em matéria de futuro dos Direitos Humanos apontam para cenários complexos, em que ocorrerão tanto oportunidades como sérias ameaças à sua proteção.
Na próxima década, o mundo será certamente mais urbano, com uma classe média mais robusta, com níveis de instrução superiores aos atuais, e mais migratório. Será um mundo mais quente, e, muito provavelmente, com menos recursos naturais que sustentam a vida humana.
As taxas de instrução continuarão e a aumentar e a desigualdade de género continuará a recuar o que trará impacto positivo ao nível social e económico. Populações mais instruídas serão, também, eleitores mais exigentes e agentes ativos na promoção da mudança social.
As grandes cidades terão uma crescente influência económica e política o que levará à agudização de problemas no acesso a habitação decente, a serviços públicos essenciais e a recursos como alimentos e água.
Os fluxos migratórios entre países e regiões continuarão a aumentar, agora com a pressão renovada das alterações climáticas e sob o influxo da instabilidade política que persiste em várias zonas do globo.
No plano económico e social, continuaremos a assistir ao fortalecimento de uma classe média global, com camadas significativas da população a saírem da situação de pobreza extrema. Estes números no entanto poderão ser anulados se não conseguirmos mitigar o aquecimento global.
Esta redução dos níveis absolutos de pobreza, sobretudo em África e na Ásia, será, no entanto, acompanhada do aumento da desigualdade económica relativa, sobretudo nas sociedades ocidentais, com o agravamento das desigualdades entre os mais ricos e os mais pobres.
Na Europa, o recuo demográfico trará redução dos recursos públicos e da capacidade de implementar políticas públicas efetivas de redistribuição da riqueza.
As formas tradicionais de governo continuarão a ser desafiadas e contestadas.
Os regimes democráticos terão de encontrar novas formas de exercer o poder. Para que se mantenha como o regime político mais atrativo para a maioria das pessoas, a democracia tem de assegurar as suas promessas: mobilidade social intra e intergeracional, a garantia de um projeto de felicidade outorgado em função do mérito e do empenho de cada um, a promessa de uma rede de segurança solidária apta a não deixar ninguém para trás, e prosperidade económica para a generalidade das pessoas. No entanto e num tempo em que as lideranças políticas surgem cada vez mais fluidas e indecisas, nenhuma destas condições se antecipa fácil de alcançar.
*professora universitária e investigadora da Universidade de Nuremberga, diretora das Conferências do Estoril
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