Corpo do artigo
Por este mundo fora temos dois continentes mergulhados no futebol e tendo em conta que estamos a falar do Campeonato Europeu e da Copa América, que são, sem dúvida, os melhores campeonatos regionais, estamos mesmo a falar de dois eventos desportivos com um alcance global.
Desde logo, temos um Campeonato Europeu bem diferente: espalhado por várias cidades tão diversas quanto Roma, que acolheu o jogo inaugural, passando por Baku no Azerbaijão, Copenhaga na Dinamarca, Munique na Alemanha e outras tantas, terminando em Inglaterra e mais concretamente naquele que é, sem dúvida, um dos grandes estádios da Europa: Wembley.
  TSF\audio\2021\06\noticias\17\17_junho_2021_a_opiniao_de_raquel_vaz_pinto
    
Confesso que estranhei e muito este formato, mas, se o objetivo for o de demonstrar o quão transversal é o futebol nos vários países que pertencem à UEFA, então a aposta parece ganha. Enquanto ia vendo os jogos lembrei-me várias vezes de uma citação de David Goldblatt, um dos grandes estudiosos do futebol, e mais especificamente do seu livro cujo título podemos traduzir como «A Bola é Redonda, Uma História Global do Futebol». As suas palavras vão bem ao encontro deste momento que vivemos: "A UEFA não só foi mais rápida do que a NATO e a União Europeia na sua expansão pela Europa fora, como o fez com mais sucesso sendo capaz de congregar o poder potencial que resulta de um continente unido." Estas palavras foram escritas em 2007 e, portanto, bem antes deste Euro, mas eu diria que agora fazem ainda mais sentido.
Dos doze patrocinadores oficiais deste Euro se virmos bem metade são empresas de regimes ditatoriais como é o caso da russa Gazprom, da Qatar Airways e das chinesas Alipay do grupo Alibaba, Hisense, a Vivo ou a Tik Tok, que operam sob a égide do «Leninismo de Mercado».
A criação de uma identidade e de um espírito futebolístico foi bem conseguida pela UEFA. Aliás, desde logo, o seu entendimento geográfico é bem mais abrangente (um pouco como o registo da Eurovisão) e inclui por exemplo a Turquia, a Rússia ou o Azerbaijão. Se pensarmos na União Europeia estes países levantariam vários sobrolhos e seriam mesmo ser considerados entradas impossíveis se tivermos em conta os regimes políticos e a falta de democracia e de direitos humanos desta Turquia de Erdogan, da Rússia de Putin ou do Azerbaijão dos Aliyev.
Mas, enquanto ia vendo os jogos, também ia reparando nos patrocínios e aqui entramos numa dimensão bem mais problemática. Dos doze patrocinadores oficiais deste Euro se virmos bem metade são empresas de regimes ditatoriais como é o caso da russa Gazprom, da Qatar Airways e das chinesas Alipay do grupo Alibaba, Hisense, a Vivo ou a Tik Tok, que operam sob a égide do «Leninismo de Mercado» para usar a expressão de Richard McGregor que tão bem descreve a relação de supremacia do Partido Comunista da China face à economia daquela que é a maior ditadura do mundo.
E esta é uma amostra de um lado do futebol que é cada vez mais evidente, cada vez mais manifesto e que a mim me preocupa muito dentro e para lá dos relvados.