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Penso que no próximo ano vamos ter a aprovação de alguns novos tratamentos, nomeadamente o tratamento para um dos subtipos do cancro da mama avançado chamado HER2 positivo (HER2+). Foram apresentados, este ano, os primeiros resultados de dois novos tipos de medicamento que esperamos que confirmem os excelentes resultados que foram vistos em estudos de fase dois, que confirmem em estudos de fase três e que permitam uma melhoria, que esperamos que também seja em termos de sobrevida, e não apenas de controlo da doença.
Só com novos medicamentos que melhorem o tempo de vida, a sobrevida dos doentes, é que podemos alterar a perspetiva desta doença que continua a ser incurável. Espero que estes novos medicamentos cheguem a Portugal. Espero que, a partir do momento em que sejam aprovados na Europa, nós possamos também tê-los disponíveis em Portugal e para todos os doentes, não aumentando as desigualdades que cada vez são
mais fortes e mais visíveis, tanto em Portugal como na Europa e no resto do mundo.
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Para a próxima década, a Aliança Global contra o Cancro da Mama Avançado definiu um conjunto de objetivos. O primeiro é duplicar a média de vida (neste momento, a sobrevida média destes doentes é apenas de três anos - metade dos doentes vivem mais do que isso, mas a outra metade vive menos).
Um outro objetivo é melhorar a qualidade de vida destes doentes e fazê-lo de diferentes formas, nomeadamente com o acesso correto ao controlo de sintomas - em particular ao controlo da dor, sem barreiras de acesso aos medicamentos contra a dor. Pode ser feito também com medicamentos que, mantendo a mesma eficácia, têm menos efeitos secundários. Esta é outra área de intensa investigação e na qual temos de continuar a investir, para que possamos tratar com a mesma eficácia, mas com menos toxicidade.
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Há outros objetivos que têm a ver com a acessibilidade aos tratamentos e aos avanços que vão sendo feitos, independentemente da capacidade económica de cada doente, independentemente do país onde o doente está. E existem também objetivos que têm a ver com o combate ao que ainda é um tabu. Apesar de ter havido muitos avanços neste campo e de as pessoas, nomeadamente os jornalistas, já utilizarem a palavra "cancro", ainda existe muito desconhecimento e muito tabu. É preciso educação a todos os níveis: da população em geral, dos profissionais de saúde, dos próprios doentes e das associações de doentes - para que não haja esta dificuldade em falar sobre o cancro avançado e que tem a ver com o medo que todos nós temos de enfrentar a nossa própria mortalidade.
*oncologista, diretora da Unidade da Mama do Centro Clínico Champalimaud e presidente da Aliança Global contra o Cancro da Mama Avançado, a maior organização mundial dedicada à doença
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