A polarização moral na política, que pode matar a democracia e a normalização do PCP e do Bloco no arco da governação, que pode criar perceções erradas para o PS. Adolfo Mesquita Nunes, "Às onze no Café de São Bento".
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As avaliações fazem-se no fim, mas Adolfo Mesquita Nunes antecipa já muitas conclusões sobre os efeitos políticos que a geringonça teve e terá para futuro. Convidado do Às onze no Café de São Bento, o vice-presidente do CDS diz que até "consigo perceber que o PS tenha procurado travar a possibilidade crescimento do BE e do PCP" quando decidiu não viabilizar um governo minoritário do PSD e do CDS. Isso daria "espaço ao Bloco e ao PCP para crescer", acrescenta.
Mas os efeitos desta decisão, podem ir muito para além dessa jogada tática dos socialistas. Adolfo Mesquita Nunes avisa que ao normalizar-se "a presença do PCP e do BE" no arco da governação, "que não são partidos que partilhem do consenso europeu" e não têm "a mesma noção de funcionamento de democracia que nós temos", os efeitos políticos para o PS podem ser nefastos.
"O PCP apoia ativamente ditaduras assassinas e não fez qualquer revisão sobre o comunismo", lembra o vice-presidente de Assunção Cristas."A partir do momento em que o PS diz que está mais perto de pessoas do PCP do que do PSD e do CDS, cria a convicção, à direita, de que apoiar e promover ditaduras assassinas não tem qualquer problema para o PS"
A polarização moral da política
Há um "traço comum no panorama político ocidental" que Adolfo Mesquita Nunes identifica claramente que é o da "polarização moral." Dois lados que disputam entre si "uma hegemonia moral na política", o que é, no entender do vice-presidente do CDS "perigosíssimo, porque desqualifica o lado de lá." Desqualificar o outro é, para o dirigente centrista, "o primeiro passo para acabar com a democracia."
Na entrevista a Paulo Baldaia e David Dinis para o programa " Às Onze no Café de São Bento ", o centrista explicou que "a moderação para mim não está nas propostas políticas - aí ate sou bastante radical no meu liberalismo - a moderação está antes na questão moral."
Mas como podem, afinal, os dois lados, cada vez mais polarizados, conviver? A resposta de Mesquita Nunes é rápida: "o instrumento comum de convivência é a liberdade." Até porque, acredita, "à polarização de um dos lados, segue-se sempre a polarização do outro."
Apesar desta polarização, Adolfo Mesquita Nunes considera "possível reconstruir pontes" e lembra que, nesta questão há sempre um traço comum, de "parecermos crianças, sempre preocupadas em saber quem começou primeiro." E quem começou primeiro? "Acho que a direita, apesar de tudo, nunca foi contaminada com o vírus da superioridade moral que a esquerda tem jogado bastante sobre nós", afirma.
Um exemplo? Mesquita Nunes lembra a questão das privatizações: "Quem mais privatizou em Portugal foi o PS", apesar de as pessoas acharem que foi a direita, constata o centrista, lamentando, ao mesmo tempo, que fique a ideia de que "uma privatização se for feita à esquerda é boa, se for feita à direita é má."
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