"Evidente que tem de haver escrutínio." Pacheco Pereira defende monitorização das "portas giratórias" dos políticos eleitos

Pacheco Pereira
Foto: Paulo Spranger (arquivo)
O arquivamento da averiguação à empresa de Luís Montenegro subiu a debate no programa O Princípio da Incerteza. O historiador José Pacheco Pereira defende o "escrutínio" à lupa da atividade profissional dos políticos eleitos. Já Alexandra Leitão critica a reação do chefe do Governo e, por outro lado, Pedro Duarte acusa os jornalistas de terem alimentado uma campanha para "tirar" o primeiro-ministro do cargo
Pacheco Pereira defende a monitorização das "portas giratórias" dos eleitos políticos. Na edição desta semana do programa da TSF e da CNN Portugal, O Princípio da Incerteza, o historiador defende que a atividade profissional e passada dos políticos eleitos deve vista à lupa.
"É evidente que tem de haver um escrutínio sobre este período de transição. Sou a favor de um escrutínio, que pode ter muitos mecanismos, mas que deve existir. Esse escrutínio deve começar por saber se fizeram uma declaração completa daquilo que fizeram naquele período. E, de um certo ponto de vista, é relevante conhecer os clientes", considera Pacheco Pereira, argumentando, ainda assim, que esse escrutínio "entra em choque, muitas vezes, com o segredo profissional".
"Mas, quando alguém concorre à Presidência da República ou a primeiro-ministro, é natural que haja este escrutínio. Esse escrutínio, não revelando nenhum crime, revela, essencialmente, o uso da influência. Eles não estão a cometer nenhum crime, mas é isso que lhes permite, de facto, terem bons lugares", sublinha.
Pacheco Pereira admite também que é preciso exigir rigor ao Tribunal Constitucional para recolher os dados.
Já sobre o arquivamento pelo Ministério Público da averiguação à empresa do primeiro-ministro, a socialista Alexandra Leitão afirma que não gostou da forma como Luís Montenegro reagiu, atacando a Justiça e dizendo que as averiguações "tinham sido como um inquérito". Neste caso, Alexandra Leitão defende que o chefe de Governo tem de fazer alguma coisa.
"Porque é o líder do Governo, tem uma ministra da Justiça e se estas averiguações foram conduzidas como um inquérito, sem nenhuma das garantias judiciais que o inquérito tem de ter, então tem de fazer alguma coisa enquanto primeiro-ministro", assinala.
A socialista nota que as averiguações são "um meio judicial que deve ser muito repensado".
"Não tem base legal, não tem escrutínio público, portanto não é possível conhecer-se as razões nem de uma acusação, nem de um arquivamento que surjam na sequência das averiguações. Isso é problemático, porque se for um verdadeiro inquérito, quer o arquivamento, quer a acusação, comporta recursos, ou se for umas averiguações, ninguém sabe o porquê, nem uma coisa, nem outra. Eu com isto não estou a dizer que não devia ter sido arquivado, antes pelo contrário, ainda bem que terminou", diz.
Alexandra Leitão critica, no entanto, o primeiro-ministro por "ter assacado à Justiça e à comunicação social uma tentação totalitária". "Isso foi despropositado e não fica bem ao líder de um Governo", remata.
Já Pedro Duarte, do PSD, defende a reação do primeiro-ministro. O comentador e presidente da câmara do Porto considera que foi legítima e pertinente, acusando os jornalistas de terem alimentado uma campanha para "tirar" Luís Montenegro do cargo.
"Eu lembro das manchetes consecutivas do Correio da Manhã, eu lembro das manchetes consecutivas do Expresso, entre outras, que manifestamente tinham uma vocação, que era tirar Luís Montenegro de primeiro-ministro. Isto resultou na lama que se tentou criar à volta da política e de uma campanha eleitoral. É que, de repente, há um partido que tem 50 deputados quando nenhum de nós conseguia imaginar ou estimar uma coisa parecida antes deste caso. Devemos todos refletir sobre isto, porque a forma leviana com que se insinua e se traz a lama para o debate político, sem nenhum fundamento comum, tem um vencedor. Quem acaba por beneficiar é o populismo", atira.
