Em declarações à TSF, o coordenador da Comissão de Trabalhadores do INEM garante que o relatório do IGAS é uma tentativa de retirar credibilidade à instituição para depois a "privatizar". E deixa críticas a Ana Paula Martins
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A Comissão de Trabalhadores (CT) do INEM desconfia que o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) sobre a morte de um homem durante a greve, no final do ano passado, é só mais uma tentativa de retirar credibilidade à instituição para depois a "desmantelar, privatizar, vender". O coordenador Rui Gonçalves considera, em declarações à TSF, que esse documento tem falhas graves e se limita a "apontar bodes expiatórios".
"Fala-se muito, por exemplo, na Saúde 24, apoiar o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM] ou vice-versa. Ora, a Saúde 24, como nós sabemos, é um serviço do Estado, mas é um serviço do Estado prestado por uma empresa privada. Há aqui este receio também de que o CODU seja arrastado para este modelo", especifica igualmente.
O INEM está a viver "o momento mais grave da emergência médica em democracia", acredita ainda. O coordenador da CT desta instituição insiste que é preciso assumir responsabilidades políticas, em vez de "andar a empurrar as culpas uns para os outros", e lembra o exemplo do antigo ministro do PS Jorge Coelho, que se demitiu após a queda da Ponte de Entre-os-Rios. Numa crítica à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, acrescenta:
Não foi ele que fez cair a ponte, mas era da responsabilidade dele. É preciso que a sociedade civil também perceba isto. Os nossos governantes são os responsáveis por tudo o que acontece na sua área de intervenção.
A atual direção do INEM, presidida por Sérgio Janeiro, assumiu funções há menos de um ano, após o escolhido Vítor Almeida ter recusado dirigir a instituição.
Rui Gonçalves fala das nomeações, considerando que a ministra da Saúde já podia ter resolvido de vez a situação. "Sempre que há mudanças, cria-se instabilidade", aponta, pedindo que deixem os trabalhadores "reconstruir a casa".
A Comissão de Trabalhadores do Instituto Nacional de Emergência Médica já tinha criticado na sexta-feira o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde sobre o organismo divulgado na quarta-feira, pedindo que a IGAS “reponha a verdade dos factos”.
O relatório, que resultou da inspeção solicitada pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, aos impactos das greves que decorreram no final de outubro e início de novembro de 2024 na capacidade de resposta dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM, considera que a morte de um homem em Pombal nessa altura “poderia ter sido evitada caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável”.
A IGAS conclui ainda que o INEM não cumpriu, de forma cabal, as atribuições que lhe estão cometidas, desde logo, o atendimento do pedido de socorro e aponta responsabilidades a dois profissionais de saúde, uma técnica de emergência pré-hospitalar do CODU de Coimbra e um médico.