Lost in translation? Declarações de Centeno ao Financial Times aqueceram Parlamento
PSD diz que Centeno disse que "afinal, não acabámos com a austeridade." PS discorda: Centeno terá dito "que as reversões não foram drásticas".
Corpo do artigo
As previsões do FMI e as privatizações de empresas de setores considerados estratégicos aqueceram o debate desta terça-feira, no Parlamento. Esquerda e direita estão divididas na leitura da entrevista do ministro das Finanças, Mário Centeno, ao Financial Times que disse que a redução da austeridade não foi "drástica" .
TSF\audio\2019\04\noticias\10\27_raquel_de_melo_plenario_10_abril
Na troca de argumentos falou-se de crescimento económico e de "oportunidades perdidas", com o PSD e o CDS unidos e a acusar o Governo do PS de transformar os últimos anos numa oportunidade perdida.
Debatendo um problema de tradução ou a falta de dicionário comum o PSD desafiou o PS a um ato de contrição.
O deputado António Leitão Amaro disse pensar que "a senhora deputada fosse pedir desculpa pela confissão de hoje, no Financial Times, em que o ministro Centeno disse e confessou que, afinal, não acabámos com a austeridade. Pensei que vinha aqui pedir desculpa, porque esse não virar da página da austeridade, afinal foi um virar para uma página pior, com a carga fiscal máxima de sempre, o mínimo investimento público de sempre e os serviços públicos nos mínimos e a prestar um cada vez pior serviço aos portugueses", atirou.
Com Leitão Amaro a acusar os socialistas de "desaproveitar uma das melhores conjunturas externas", Margarida Marques, do PS, pediu ao deputado outra leitura.
"Efetivamente, o que disse Mário Centeno é que as reversões não foram drásticas. E não é isso que está a ser dito, portanto sugiro ao senhor deputado que vá ler o que publicou o Financial Times", sugeriu a deputada socialista.
Entre as "fake news" e o "inglês técnico socialista", o centrista João Almeida reclama "censura à maioria que governa por dizer tudo e o seu contrário".
"A privatização dos estaleiros de Viana do Castelo ia acabar com aquilo que é a construção e reparação naval em Portugal. Só que não. Engalanaram-se para irem à cerimónia do primeiro navio de uma indústria pujante que está em Portugal para dar cartas", defendeu o deputado do CDS antes de deixar também críticas à gestão do SIRESP.
João Almeida relembra que o sistema "falhou e então o Estado ia recupera a maioria do capital do SIRESP. Só que não. Continua tudo na mesma, sem haver alteração da estrutura societária da empresa SIRESP".
Do PCP chegara, por Jorge Machado, críticas ao CDS. O deputado garante que o partido centrista "sacode a água do capote de uma estratégia de desastre nacional".
"Os senhores deputados batem palmas porque promoveram negócios de milhões, à custa da destruição do erário público, para favorecer privados? Deviam ter vergonha! Deviam ter vergonha do que fizeram aos estaleiros navais de Viana do Castelo", acusou o deputado.
Uma questão de mais ou menos Estado nas empresas, num debate bilingue, ou talvez não. Certo é que a divergência ideológica sobre o papel do Estado ficou bem vincada, esta terça-feira, na Assembleia da República.
LER MAIS:
- Mário Centeno diz que a redução da austeridade não foi "dramática"