Marques Mendes deixa aviso sobre leis laborais: "Corremos o risco de perder paz social"

Luís Marques Mendes, candidato à Presidência da República
Rita Chantre
Na entrevista TSF/JN, Marques Mendes insiste no apelo para que o Governo negoceie com a UGT, mesmo que seja depois da greve geral: "Autoridade não é autoritarismo, reformar não é desequilibrar"
Corpo do artigo
Na semana passada exigiu resultados à ministra da Saúde, agora deixa o mesmo conselho sobre a UGT e as leis laborais. É uma tentativa sua de se demarcar nestes temas?
Não. É uma tentativa de, ainda antes de ser presidente da República, poder ser útil ao país. Há certas matérias em que eu não posso esperar pelo dia 9 de março, quando é o dia da posse de um Presidente da República. É o caso da questão da legislação laboral e de uma eventual greve geral e do diálogo social. Acho que esta situação é muito delicada. De um lado, o Governo entende que há necessidade de rever a legislação laboral, tem todo o direito. Do outro lado, há centrais sindicais que entendem fazer uma greve geral, têm toda a legitimidade de o fazer. Eu quis fazer esta semana um apelo ao Governo por um lado e à UGT por outro para que dialoguem. Primeiro porque sou um grande defensor do diálogo social, sempre fui, não é de agora. Aposto muito no diálogo social e na concertação social, acho que dá grandes resultados. E participei em governos que fizeram vários acordos nesse domínio. Segundo lugar, porque eu acho que a UGT é uma central sindical que merece atenção e respeito e sensibilidade. Não é apenas por ser uma central sindical democrática, é que já mostrou o grande sentido de responsabilidade no passado em fazer vários acordos e, portanto, já tem provas dadas. Terceiro lugar, por uma coisa que até os patrões chamam a atenção, já o fizeram em conversas comigo em privado, que é, uma legislação laboral com acordo é sempre melhor do que sem acordo. Porque mesmo que não vá tão longe quanto os patrões desejam, têm uma garantia de paz social por um lado, e que duram mais no tempo, ou seja, duram durante mais anos. E foi por isso que esta semana resolvi reunir com o parceiro social, não é que eu me queira substituir a ninguém, nem arvorar-me em pessoa importante. Não. Achei que este assunto, se não se chama a atenção a tempo e horas, corre-se o risco de, no final, ter uma má solução. É a minha visão de poder ser útil ao país.
Até porque uma proposta que não resulte desse entendimento estará ferida à partida, mesmo que uma maioria parlamentar à direita a aprove?
Acho que se esta legislação for feita sem acordo social corre imensos riscos. E, portanto, recomendaria ao Governo o mais possível abertura para negociar, mesmo que seja até depois da greve, isso é perfeitamente possível. E já aconteceram exemplos no passado. E negociar com a UGT, porque a CGTP nunca assinou nenhum acordo social, é só por isso. Negociar com a UGT, primeiro porque, se não for assim, corremos o risco de perder paz social, e isso acho que nem os patrões querem, acho que ninguém quer. Temos de garantir a paz social. Segundo, temos que garantir equilíbrio. Uma empresa não são só empresários. Uma empresa são empresários e trabalhadores. Tem que haver equilíbrio, porque os interesses são um pouco diferentes uns dos outros. E tem que haver esse equilíbrio para juntar as partes. A governação moderna em Portugal e em qualquer lado do mundo, agora, nos últimos anos, é feita em parceria. É com autoridade, mas não é com autoritarismo. É com vontade reformista, mas não é com desequilíbrio. Nós temos que combater os desequilíbrios sociais, que são muito grandes e muito sérios. E isto faz-se mobilizando todos, não colocando uns contra os outros. Portanto, se eu posso recomendar hoje alguma coisa, é aquilo que fiz esta semana, ao Governo e à UGT, mas também aos demais parceiros, dialoguem, negoceiem, não fechem as portas. Com greve ou sem greve, percebam que o interesse nacional tem que estar acima de tudo. É essa posição de árbitro, de moderador, que eu quero fazer.