Mithá Ribeiro sai do Chega e acusa Ventura de ser "predador psicológico": "Entregar-lhe o poder é rumar ao paraíso de ignorantes”
Acusa o líder do Chega de “pulsão autocrática destrutiva”, que diz ser “um traço de personalidade impossível de o tornar um governante responsável”
Corpo do artigo
O antigo deputado do Chega Gabriel Mithá Ribeiro anunciou, esta sexta-feira, a sua saída do partido, acusando o líder, André Ventura, de ser um “predador psicológico” com comportamentos narcísicos e autoritários.
Num artigo de opinião publicado no Observador, o ex-vice-presidente do Chega diz que a sua exclusão do governo-sombra apresentado por André Ventura foi o momento que precipitou a sua exclusão.
“Cumprir o primeiro dever imposto pelo programa político sufragado no Conselho Nacional de Sagres (2021) revelou-se impossível para um líder narcísico, pois obrigava-o a descentrar o Chega da sua pessoa (indivíduo) e recentrá-lo num valor civilizacional universal e abstrato (coletivo)”, escreve o responsável pelo programa político do Chega.
Mithá Ribeiro diz que “o ponteiro da responsabilidade coletiva nunca se moveu” no Chega, que para os militantes e simpatizantes não deixou de ser mais do que “o partido do André”.
André Ventura é demasiado inteligente para, ao fim de quatro anos, não compreender ser o primeiro e principal traidor da essência política formalmente instituída pelo seu próprio partido, mas a sua impossibilidade de olhar o meio envolvente sem o filtro narcísico move-o numa cruzada insana contra o sujeito coletivo
Acusa o líder do Chega de “pulsão autocrática destrutiva”, que diz ser “um traço de personalidade impossível de o tornar um governante responsável”.
Tal pulsão – acrescenta -, “alimenta no núcleo duro do seu poder interdependências pessoais deprimentes, moralmente dissolventes e socialmente danosas no caso de ser Governo”.
No artigo, intitulado Os 7 pecados mortais do predador narcísico, Mithá Ribeiro avisa que “entregar o poder a um político com tal perfil psicológico é construir um muro de betão contra o uso social da razão, e rumar ao paraíso de ignorantes”.
“Desfazem-se mistérios do Chega nunca sair da bolha restrita de temas do Chefe, e da impossibilidade de atrair cidadãos competentes, que abundam no campo político da direita, mas apenas funcionam em contextos de respeito e valorização pela sua autonomia existencial e conhecimentos”, acrescenta.
Mithá Ribeiro diz que André Ventura “mudou para sempre Portugal ao escancarar as portas da liberdade à direita”, mas insiste: “A sua personalidade tóxica envenena o que ele mesmo semeou numa direita que não mais se pode permitir a si mesma ser infantil, primária, imoral, irracional, irresponsável, submissa a um dono.”
Historiador e professor universitário, Mithá Ribeiro foi um dos fundadores do Chega e uma das figuras mais próximas de Ventura nos primeiros anos do partido.
No dia 22 de setembro o grupo parlamentar do Chega anunciou que Mithá Ribeiro tinha pedido a renúncia ao mandato de deputado e que seria substituído por Rui Fernandes, sem revelar os motivos desta decisão.
Na semana seguinte, Mithá Ribeiro anunciou a desistência da sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Pombal.
Mithá Ribeiro foi eleito deputado na XV, XVI e XVII legislaturas, sempre pelo círculo de Leiria, tendo sido reconduzido como secretário da mesa da Assembleia da República em junho passado, depois das eleições legislativas antecipadas.
