PCP e BE acusam Governo de estar capturado pelos grandes grupos e com a ideologia da troika

CGTP-IN union secretary-general, Tiago Oilveira (L), and Portuguese Communist Party (PCP) secretary-general, Paulo Raimundo (R), during the demonstration of thousands of workers convened by the General Confederation of Portuguese Workers - National Inter-Union (CGTP-IN) to protest against changes to labor law in Lisbon, Portugal, November 8, 2025. The government's draft proposal for revising labor legislation, which is being debated with social partners, foresees the revision of "more than a hundred" articles of the Labor Code. ANTONIO COTRIM/LUSA
António Cotrim/Lusa
Estas posições foram assumidas pelo secretário-geral do PCP e pela coordenadora nacional do BE durante a marcha nacional convocada pela CGTP contra o pacote laboral do Governo PSD/CDS-PP, em Lisboa
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O PCP e o BE acusaram este sábado o Governo de estar capturado pelos grandes grupos económicos e governar com a ideologia da 'troika', em resposta ao primeiro-ministro, que falou em captura das centrais sindicais por interesses de partidos políticos.
Estas posições foram assumidas pelo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, e pela coordenadora nacional do BE, Mariana Mortágua, em declarações aos jornalistas, durante a marcha nacional convocada pela CGTP contra o pacote laboral do Governo PSD/CDS-PP, em Lisboa.
Confrontados com a afirmação do primeiro-ministro e presidente do PSD sobre uma possível "captura do interesse dos trabalhadores e da atividade dos sindicatos por interesses de partidos políticos que estão intimamente ligados a centrais sindicais", Paulo Raimundo e Mariana Mortágua devolveram a acusação a Luís Montenegro, associando o executivo PSD/CDS-PP aos interesses dos grandes grupos económicos.
"Tem a lata de falar sobre sindicatos capturados? É um Governo capturado pela banca, pelas maiores empresas e grupos económicos do país e que quer atacar quem trabalha, como a direita faz, sistematicamente, quando chega ao poder", reagiu a coordenadora nacional do BE.
Segundo Mariana Mortágua, a proposta de Orçamento do Estado apresentada para 2026, "com uma borla imensa à banca, uma descida de impostos nunca vista aos bancos de centenas de milhões de euros", demonstra que "o Governo está capturado pelos interesses privados e dos grandes grupos económicos".
O secretário-geral do PCP teve uma reação semelhante: "É preciso uma grande lata. Um Governo e um primeiro-ministro que têm como objetivo aumentar mais a precariedade para além daquela que já existe e já é aos milhares".
"Nós temos um Governo, e em particular quatro partidos, PSD, CDS, Chega e IL, completamente capturados e nas mãos dos grandes grupos económicos", acusou Paulo Raimundo, apontando: "Veja-se o Orçamento do Estado, veja-se os benefícios fiscais, veja-se a descida dos impostos sobre os lucros, veja-se isso tudo".
"Quem está capturado pelos grandes interesses é o Governo e os partidos do Governo", reforçou.
A propósito da convocação de uma greve geral, passados dez anos, o secretário-geral do PCP comentou: "Os tempos não se repetem, mas diria assim que há cheirinhos. Cheira à 'troika', mas não é de agora. Cheira à 'troika' no Orçamento, cheira à 'troika' no desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), cheira à 'troika' no que diz respeito à educação e às propinas, cheira à 'troika' na lei laboral, cheira, cheira".
Por sua vez, Mariana Mortágua considerou que o executivo PSD/CDS-PP chefiado por Luís Montenegro é até, "em muitas medidas, mais ideológico do que o Governo durante a 'troika'", período em que "havia a desculpa de haver um memorando".
"Agora não há nenhuma desculpa. Este é um Governo ideológico e tem um programa para o país: é o programa de liberalizar, de privatizar, de vender aquilo que resta do serviço público, de atacar o trabalho, de precarizar as relações laborais e de diminuir os salários", sustentou.
O anteprojeto do Governo de revisão da legislação laboral, que motivou a manifestação de hoje e a convocação de uma greve geral para 11 de dezembro, contém, entre outras alterações, a extensão da duração dos contratos a prazo, o regresso do banco de horas individual, o fim do travão à contratação externa após despedimentos, a revisão das licenças parentais e o reforço dos serviços mínimos obrigatórios em caso de greve.
Em Belém, no Brasil, o primeiro-ministro considerou que "os representantes dos sindicatos têm de explicar" porque partem para um "protesto dessa dimensão" quando ainda se está "a discutir com os parceiros sociais" e falou numa possível "captura do interesse dos trabalhadores e da atividade dos sindicatos por interesses de partidos políticos que estão intimamente ligados a centrais sindicais".
