"Não vamos desistir." Milhares de trabalhadores marcham em Lisboa contra pacote laboral "do patrão"

António Cotrim/Lusa
Na manifestação, entoaram-se palavras de ordem como "não vamos desistir, o pacote é para cair" e "o pacote laboral é encomenda do patrão, não tem nada que enganar é para aumentar a exploração"
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A marcha contra o pacote laboral "do patrão" organizada pela CGTP levou este sábado milhares de trabalhadores a descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, protestando contra as alterações à lei laboral propostas pelo Governo de Luís Montenegro.
Sob o mote "Todos a Lisboa", a manifestação convocada pela central sindical liderada por Tiago Oliveira teve início com duas pré-concentrações na capital: os trabalhadores do setor público juntaram-se nas Amoreiras e os do setor privado no Saldanha, sendo que ambas desaguaram no Marquês de Pombal.
Na manifestação, entoaram-se palavras de ordem como "não vamos desistir, o pacote é para cair" e "o pacote laboral é encomenda do patrão, não tem nada que enganar é para aumentar a exploração".
Empunhando bandeiras de vários sindicatos e organizações e cartazes onde se liam frases como "não ao pacote laboral, outro rumo é possível", pessoas de todas as idades desceram a Avenida da Liberdade para se juntarem nos Restauradores, onde várias figuras da CGTP discursaram.
Os líderes do PCP e do BE marcaram presença no protesto, onde acusaram o Governo de estar capturado pelos grandes grupos económicos e governar com a ideologia da 'troika', em resposta ao primeiro-ministro, que falou em captura das centrais sindicais por interesses de partidos políticos.
Além disso, os candidatos presidenciais Catarina Martins, António Filipe e Jorge Pinto, apoiados respetivamente por BE, PCP e Livre, também se juntaram à marcha nacional manifestando-se contra o pacote laboral do Governo PSD/CDS-PP e solidários com os trabalhadores.
Era possível ver sinais, camisolas e bandeiras de estruturas de vários pontos do país, sendo que para assegurar a participação dos trabalhadores que trabalham ao fim de semana foram emitidos vários pré-avisos de greve, nomeadamente nos setores do comércio, serviços, restauração, hotelaria e algumas indústrias.
Os manifestantes exigiam "paz, pão e o direito à habitação", com vários trabalhadores a lamentar o aumento do custo de vida e a reivindicar melhores salários, mais direitos e 35 horas semanais de trabalho para todos.
O secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, anunciou, no discurso no final da marcha, uma greve geral para 11 de dezembro.
Tiago Oliveira disse que "com posição já tomada ou em processo final de decisão por muitas estruturas sindicais, foi possível estabelecer a convergência para uma greve geral no próximo dia 11 de dezembro".
Para o sindicalista, este pacote laboral é "um dos maiores ataques já feito aos trabalhadores", reiterando que "é um chorrilho de alterações a legislação do trabalho que, se passassem, seria um verdadeiro retrocesso na vida de todos".
Entre as críticas a este pacote encontra-se o aumento da precariedade, "com mais motivos para o patrão contratar a prazo", bem como medidas que "facilitam os despedimentos", "atacam" a contratação coletiva e o direito de greve, argumentou.
Após o anúncio da greve, os manifestantes mostraram apoio à paralisação de 24 horas ao entoar "o ataque é brutal, vamos à greve geral".
O anteprojeto do Governo para revisão da legislação laboral, que está a ser debatido com os parceiros sociais, prevê a revisão de "mais de uma centena" de artigos do Código de Trabalho.
As alterações previstas na proposta - designada "Trabalho XXI" e que o Governo apresentou em 24 de julho como uma revisão "profunda" da legislação laboral - visam desde a área da parentalidade (com alterações nas licenças parentais, amamentação e luto gestacional) ao trabalho flexível, formação nas empresas ou período experimental dos contratos de trabalho, prevendo ainda um alargamento dos setores que passam a estar abrangidos por serviços mínimos em caso de greve.
