Em entrevista à TSF, Miguel Albuquerque acusa o executivo de António Costa de falta de respeito pela autonomia da região e avisa que nenhum português gosta de ser tratado de forma discriminatória.
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Que mensagem é que pretende levar ao Congresso?
Acho que neste momento nós temos de retomar a questão das autonomias e vou dizer isto com grande clareza e grande franqueza: as questões autonómicas, a questão da equidade da justiça nas autonomias e nas ilhas é um pouco como a questão social, se não for tratada vai levar a soluções mais radicais. Nós aqui na Madeira temos tido uma postura de Estado, temos uma postura de diálogo, uma postura de cooperação no sentido de resolver aquilo que são questões essenciais para os portugueses residentes na Madeira. Evidentemente, as expectativas que tinha em relação a este Governo foram um verdadeiro desastre; os poderes do Estado são vistos neste momento não de forma suprapartidária, mas como instrumentos, muitas vezes, para o desenvolvimento de políticas partidárias.
Acha que este Governo está a prejudicar a autonomia da região?
Completamente. Ainda no outro dia veio aqui uma secretária de estado do PS - veio ao Congresso do Partido Socialista - e teve o desplante, a lata, de dizer as maiores mentiras e uma das mentiras foi que o Governo Regional é que estava a atrasar o novo hospital da Madeira, quando o Governo do PS ainda não inscreveu um cêntimo no Orçamento do Estado. Portanto, isto torna-se muito complicado, e torna-se complicado porquê? Porque as questões das ilhas ultraperiféricas são complicadas. Ainda agora tivemos a Guiana, a Guiana esteve a ferro e fogo - eu estive lá na reunião das ultraperiféricas -, com grupos de rua com ocupações de hospitais, ocupações de escolas, porque tem um desemprego de 40%; teve de ir lá o Presidente francês, o Presidente Juncker esteve lá. Porquê? Porque ou encontramos as soluções ou então vai haver forças mais radicais e vão-se extremar posições na questão das autonomias regionais.
Acha que a Madeira corre esse risco?
Se as soluções não forem enquadradas no âmbito institucional corremos esse risco, porque as pessoas não podem aceitar ser tratadas de forma discriminatória. Não há nenhum português que goste de ser tratado de forma discriminatória.
Eu estou a dizer isto porquê? Porque nós temos tido, aqui na Madeira, sempre uma postura de responsabilidade, de tratamento institucional no quadro da nossa Constituição, no sentido de resolver os nossos problemas. Nós nem queremos mais do que os outros, nós precisamos é de ter soluções. E o que é que temos tido agora? Conversa fiada e aquela velha coisa que o Dr. Salazar ia dizendo que era criar comissões para não resolver nada. Criam-se as comissões, vai-se deixando o tempo passar e nada é resolvido. O que eu tenho dito é que, neste momento, é fundamental resolver questões que estão pendentes; por exemplo, a questão iníqua do Tribunal Constitucional que continua a ter posturas napoleónicas, de um centralismo absoluto, relativamente, por exemplo, à sobretaxa do IRS. Acabou a sobretaxa do IRS e os madeirenses continuam a pagar, e porquê, se nós já saímos do plano de ajustamento? Inventam justificações absurdas para continuar a penalizar os nossos impostos.
A solução da mobilidade aérea continua por resolver quando, ao fim de seis meses da aprovação da lei, devia ter sido resolvida. Há justificação para um pai de família residente na Madeira estar a adiantar, devido aos preços exorbitantes que a TAP pratica - companhia nacional, de maioria nacional -, 500 ou 600 euros à TAP se tem dois filhos a estudar em Lisboa? Acha que isto é normal? Nada disto é normal. Há casos e já houve de jovens que ficar nas férias do Natal em Lisboa porque o pai não consegue adiantar o dinheiro e esta é uma questão que tem de ser resolvida. Andamos há dois anos para resolver isto.
A história da mobilidade marítima também não existe, por exemplo, a Espanha apoia a mobilidade marítima entre as ilhas, tem um navio que é apoiado pelo Estado. É preciso levar em conta que Portugal tem hoje 3 700 000 km² de plataforma continental, uma das maiores do mundo, que é a nossa segunda maior riqueza a seguir aos recursos humanos, uma plataforma continental imensa, uma riqueza fundamental para o futuro, graças à dimensão arquipelágica. Ora, gasta-se dinheiro em tanta coisa e não se tem dinheiro para apoiar um navio de passageiros de ligação entre o continente e as ilhas. Acha que isto é normal? Não, não é.
Parte do sucesso de Rui Rio depende de si e do resultado que o senhor conseguir nas regionais do próximo ano; nas últimas teve uma maioria absoluta. Continua a ser essa a sua fasquia?
As eleições são daqui a algum tempo, são no próximo ano, e o nosso objetivo é ganhar as eleições com maioria absoluta, aliás é importante ganharmos com maioria absoluta porque é bom que os governos aqui na Madeira tenham maioria absoluta porque é muito mais fácil governar. Tenho tido algum contacto com o meu colega de Canárias que não tem maioria absoluta no Governo, e ele passa horas e horas ao telefone, pois qualquer decisão tem de ser negociada, é um processo moroso e um processo complicado. Mas, obviamente, o quadro de solução governativa é aquele que os madeirenses e os porto-santenses decidirem. Nós estamos disponíveis para governar em função do resultado que os eleitores decidirem.
Mas a perspetiva neste momento não é muito animadora para o seu lado, há uma sondagem que, pela primeira vez, coloca o Partido Socialista à frente do PSD na Madeira. O que é que lhe está a correr mal?
Neste momento, eu acho que devemos ter alguma noção de que tivemos e estamos a ter um processo de governo de recuperação económica e social, com baixa do desemprego, etc., etc. Houve, de facto, as eleições autárquicas onde a maioria dos presidentes de câmara que não eram do PSD foi reeleita, como acontece em 98% das câmaras, mas acho que ainda é muito cedo para o Partido Socialista deitar os foguetes. O PS fez o Congresso, já deitou os foguetes, já apanhou as canas, mas as eleições são só daqui a uma ano e meio.
O foguete do Partido Socialista chama-se Paulo Cafôfo?
Seja quem for, não tem nenhum problema, porque nós vamos às eleições sempre para ganhar.
Não tem medo de Paulo Cafôfo?
Não tenho medo nenhum, medo nenhum.
Mas admite que é um candidato forte que o Partido Socialista conseguiu convencer?
É um candidato que representa o fracionamento e a divisão do PS e representa outra coisa, representa também além disso, a circunstância de hoje o PS não ser governado pelos órgãos locais, ser governado a partir de Lisboa.
Acha que é António Costa que está por trás da candidatura de Paulo Cafôfo?
Eu acho que é o Partido Socialista de Lisboa que engendrou esta solução de barriga de aluguer para tomar o poder na Madeira, vamos ver se consegue.
Acha que não vai conseguir?
Acho que não.
Não teme que os madeirenses estejam a perder a confiança em si e no PSD?
Há muitos anos que eu concorro a eleições, mas acho que, neste momento, o caminho que estamos a percorrer é um caminho positivo para a Madeira, acho que as pessoas têm a noção disso. Nós saímos do plano de ajustamento, hoje a Madeira está a crescer há 53 meses em todas as valências da sua economia, o desemprego baixou; quando cheguei ao Governo tínhamos um desemprego de 15,8%, hoje está em 9,8%. Temos todos os investimentos em infraestruturas que estão a ser realizados e, por conseguinte, estou perfeitamente tranquilo porque, na verdade, nós vamos mais uma vez cumprir aquilo que são as nossas promessas e os nossos compromissos com os madeirenses.
Não deixa de ser irónico que a oposição agora o acuse de ser uma espécie de remake da governação de Alberto João Jardim, com a aposta que o senhor está a fazer em grandes obras públicas e naquilo a que a oposição chama "investimento do betão". O senhor, que foi um crítico de Alberto João Jardim sobretudo na fase final do mandato dele, admite que está a usar a mesma estratégia ou não?
Eu nunca fui contra o investimento público, isso não é verdade. Se me perguntar que tipo de investimentos públicos é que nós estamos a fazer, eu acho que é importante que esses investimentos sejam feitos, na reabilitação do património, nas infraestruturas de saúde, nas escolas. Nós estamos agora a construir duas escolas na Madeira fundamentais, mas quando vai ao parlamento e pergunta aos tais líderes da oposição se são contra essas escolas nos concelhos, eles não assumem isso, porque perante a população dos concelhos acham que as escolas são essenciais. Por exemplo, ainda agora reabilitámos duas capelas do séc. XVI no concelho de Machico, que é um concelho que o PSD governa. É uma igreja matriz do tempo, quase, da descoberta da Madeira, essa reabilitação é uma obra pública, ninguém é contra. Tudo isto tem de ser contextualizado numa vertente local.
Mas isso é um slogan e sabe que, hoje, os slogans pegam da mesma forma que a difamação pega e, depois, há agora um novo modelo que eu acho detestável, que é o mandar mensagens, o pôr perfis falsos na internet e nas redes sociais. Uma pessoa hoje não pode governar para as redes sociais, no dia em que começarmos nesta moda - e há muitos políticos que já estão a começar -, vamos cair numa coisa que é terrível e que vai levar à decadência das democracias, que são os populismos. Vai haver eleições agora em março em Itália e a Itália que foi um país fundador da construção europeia corre o risco de cair num governo anti-Europa, e isto está a surgir de uma forma acelerada nas nossas sociedades devido também à responsabilidade dos próprios políticos tradicionais. Os políticos tradicionais dos partidos fundadores do estado social e da democracia para se fazerem também populares, para a popularidade fácil, continuam a usar estas formas de manipulação, de desinformação e de ignorância. Estas novas metodologias populistas têm sempre consequências más.
A sua relação com Alberto João Jardim está reabilitada?
Eu estou farto de dizer isto: nunca tive nenhuma questão pessoal com ele.
Tinha uma questão política?
Uma questão política. Na altura achei, e bem do meu ponto de vista, que deviam existir eleições no partido, que a liderança devia mudar e foi isso que aconteceu, as eleições foram feitas, ganhámos e ainda bem que ganhámos. Houve um Congresso democrático. Hoje, aqui, o nosso relacionamento é um relacionamento normal, institucional.
Não deixou marcas, esse processo?
Não, isso está ultrapassado.
Acha que ele ainda tem alguma coisa a dar à política?
Tem, com certeza que tem. Tenho imensa pena, porque acho que ele, na altura - não quer dizer que já não esteja a tempo -, devia ter ido para um cargo na Europa porque era importante para o país, até pelo papel que ele desempenhou quer no Comité das Regiões quer nas Ultraperiféricas teve um papel muito importante e acho que é um homem que podia dar um contributo muito importante, podia e pode.
Como eurodeputado?
Como eurodeputado ou mesmo num cargo de um lugar político na Europa. Devemos aproveitar os políticos com experiência política, com obra feita, como ele tem, e acho que isso era importante para dar um contributo para o desenvolvimento e para a projeção internacional do país. Eu vejo alguns dos indivíduos que têm sido nomeados e que não valem absolutamente nada, são aqueles bluffs que têm um grande currículo, mas nunca fizeram nada. Não preciso de enunciar nem explicar o que estou a dizer.
LEIA E VEJA NA ÍNTEGRA A ENTREVISTA A MIGUEL ALBUQUERQUE AQUI.