PSD "a reboque" do Chega para proibir burca? Um "erro de base", um "padrão" na Europa e o alerta para "guerras culturais à direita"
No Princípio da Incerteza, Pedro Duarte, Alexandra Leitão e Pacheco Pereira debateram a proibição das burcas, aprovada pelo Parlamento por proposta do Chega
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O Princípio da Incerteza regressou, este domingo, à TSF e à CNN Portugal e a proibição de circular com o rosto tapado, aprovada pelo Parlamento por proposta do Chega, subiu à mesa de debate. Pedro Duarte, Alexandra Leitão e José Pacheco Pereira criticam as análises e as decisões dos partidos.
Pelo lado do PSD, Pedro Duarte não concorda com a ideia de que o PSD vai a reboque das políticas defendidas por André Ventura, defendendo, por isso, o fim desse paradigma.
É um erro de base e tem contribuído para o crescimento permanente do Chega. A premissa tem sido essa: considerar-se que é o Chega que traz temas para a sociedade portuguesa e depois vão a reboque. Não percebemos que são problemas sociais e concretos da vida das pessoas, em que por acaso o Chega está a ir atrás deles
Pedro Duarte defende, por isso, que "enquanto não se fizer esta alteração de paradigma e de formatação mental, vamos continuar, sem intenção, a inchar o Chega".
"Era muito importante que houvesse esta reflexão para se perceber", acrescenta.
Alexandra Leitão argumenta que a intenção de proibir a burca é um tema da extrema-direita, que não defende a igualdade de género, algo que, argumenta a socialista, o partido de Ventura nunca apoiou.
Isto é um padrão de comportamento, fazem tudo igual em todos os países da Europa. Metem na agenda um assunto que não está na agenda. Não estou a falar da imigração, estou a falar da burca, põem-no na agenda, mascarado por preocupação com a igualdade de género
A socialista frisa que o Chega é um partido "contra as leis da paridade, contra as leis da interrupção voluntária da gravidez, contra coisas da violência doméstica", mas, "de repente, preocupa-se assim tanto com as mulheres? Estão a tentar enganar quem?", questiona.
Já Pacheco Pereira alerta para o problema de guerras culturais que a direita pretende fazer. O historiador não tem dúvidas: o PSD foi a reboque da agenda do Chega.
"As guerras culturais têm sido sempre ganhas à direita e não é pela direita, é pela extrema-direita e pela direita radical", atira, sublinhando que um partido como o PSD "podia pura e simplesmente dizer que o problema da submissão das mulheres no Islão tem muitas maneiras de ser tratado e deve ser tratado a começar pela lei, que deve ser igual para todos".
"O Chega pretende demonizar tudo o que é o outro num país em que o comportamento em relação às mulheres é profundamente discriminatório. Em Portugal, as mulheres são seres de segunda de modo geral, nos empregos, nos salários, em casa. Há muitos aspetos culturais da nossa vida no qual seria mais importante que o PSD ou partidos moderados olhassem do que pura e simplesmente irem a reboque da agenda do Chega", acrescenta.
PSD, IL e CDS-PP aprovaram esta sexta-feira, na generalidade, o projeto de lei do Chega que visa proibir a utilização de burca em espaços públicos, invocando os direitos das mulheres e questões de segurança.
A iniciativa contou com os votos favoráveis do Chega, PSD, IL e CDS-PP, votos contra de PS, Livre, BE e PCP, e a abstenção de PAN e JPP.
Enquanto IL e CDS-PP declararam apoio ao projeto do Chega que “proíbe a ocultação do rosto em espaços públicos, salvo determinadas exceções”, o PSD manifestou-se “disponível para fazer este caminho”, mas defendeu que “o texto apresentado pode e deve ser aperfeiçoado em sede de especialidade”.